16 de nov. de 2012

releitura musical

Pra mim ainda é bem real. 
Tudo que um dia a gente inventou ainda é real mas claro, é diferente. Eu aceito o fim e aceito o caminho que percorremos e já não há espaço ou disposição para a negação mas me recuso a 'fechar essa porta' pra sempre porque creio que temos condições de colocar uma vírgula no passado e seguir contando a nossa história.
Eu te digo que não tenho mais um sentimento forte mas eu respeito que um dia eu senti. E mais do que lembrar apenas do final, eu me lembro do início e de toda amizade que existia.

Ao meu ver, já se passou tempo suficiente para que se pondere começar uma relação cordial. Eu tenho tentado mas tu sabes que esse não é exatamente o meu forte. Creio que ainda tenhamos intimidade demais e acabo, por vezes, 'forçando a barra', mas é que eu não sei qual o teu limite porque tu não falas. 
Devo então é simplesmente largar tudo e desconsiderar o que se viveu? Agir como qualquer ex-namorados e fingir que nada aconteceu?

7 de nov. de 2012

achômetros

Acho incrível que algo que não gostamos acabe desagradando atos simples. Por exemplo, me senti extremamente incomodada quando, no ônibus  sentei ao lado de uma mulher que em seus fones, escutava funk. O problema era que eu sentada ao lado dela, escutava a batida e em seguida me senti compelida a mudar de lugar, ir para o assento à minha frente, ao lado de um guri fofo de cabelos cacheadérrimos. No auge do meu otimismo pensei que não iria escutar mais a batida quando o ônibus entrasse em movimento e puxei o meu livro para ocupar a cabeça. Acontece que eu fiquei escutando o 'tum tá tum tum tum tá' em loop. Com certeza a música era diferente mas o ritmo era o mesmo e os 35 minutos dentro de um ônibus tiveram um funk como trilha sonora. O resultado foi a falta de concentração, li várias vezes as mesmas frases e não me importo (e nem me importei na hora) com as pessoas conversando, as crianças gritando com suas mães e o barulho da cidade mas se eu pudesse mudar alguma coisa seria o meu lugar.


Acho irônico que tenham abandonado um maço vazio de cigarros em cima da mureta de proteção (ou determinação de perímetro) da igreja perto de casa.

Acho legal e sinal de maior civilidade que mais pessoas desçam na mesma parada que eu. Ano retrasado eu era sozinha, agora sempre sou acompanhada e de certa forma fico feliz e segura. Pura bobagem.


Agora vem o verão e eu entro em uma loucura digna de mulherzices. Não me incomodo com pesos nem curvas, e muito menos celulites, mas o que me incomoda é o que calçar ao sair de casa e ir para o centro. Na praia é um ambiente tranquilo, ninguém presta atenção se tu estás usando havaianas ou até mesmo pés descalços. Já no centro urbano sinto olhares mal educados ao sair de havaianas (mas pode ser pura loucura minha). Insisto em não gostar de sapatilhas e rasteirinhas com tiras e brilhos de mil cores. Por mim andava sempre de pés descalços (que servem como um método anti-stress e anti-calor), de havaianas ou, nos fins de semana, salto alto.


Enquanto a vida acontece lá fora eu fico pensando com os meus botões: acho que um dia ainda reforço a pichação da Av. Presidente Vargas "Você já acordou hoje?".

24 de out. de 2012

o começo do fim da meia hora

É engraçado a forma com que a vida segue em frente. O tempo passa e tanta coisa acontece, tudo junto! Os meus dois últimos anos parecem ter demorado o dobro, só ao pensar no tanto de coisas que aconteceram. Agora as informações chegam mais rápido e haja cabeça para absorver tudo que é dito.
Mais ainda, percebo tudo que eu quis falar e fazer mas que esqueci, adiei ou desisti e os resultados não são dos mais animadores. Seja por questão de espírito ou falta de tempo (desculpas), de fato sou preguiçosa e o pior do que ser preguiçosa com os outros é ser preguiçosa consigo mesma e a minha mente muito já me impediu de ser ou conhecer alguém interessante.

A perda de tempo em frente à essa tela é surpreendente enorme e em poucos minutos me distraio, perdendo horas que poderiam ser usadas para ler ou criar algo que me fizesse mais feliz. O vazio de vez em quando vira buraco-negro.
A mediocridade da vida e a relatividade do tempo têm me pego de surpresa. Nem que seja naquela meia hora tida como perdida, a proposta para o início do fim do ano é torná-la a melhor meia hora daquele dia, e assim, no próximo.


19 de out. de 2012

'mimimi' virtual

Em um passado não tão distante, quando os casais brigavam a ponto de pensar em terminar, o assunto mal era comentado abertamente. Os amigos mais íntimos poderiam ser chamados para consolar e argumentar, em vão, todos os clichês que estamos cansados de ouvir - sejam os chavões para esquecê-lo (a), seja para reconquistá-lo (a). Caso a segunda opção fosse escolhida, a pessoa ia na casa da outra, no local de trabalho/estudo, ligava e chamava pra sair e conversar. Em um tempo um pouco mais distante, o ritual de galanteio envolvia até uma serenata romântica.

Hoje em dia, a cada semana (sendo otimista), ocorrem brigas dignas de término, como se o fim da relação fosse uma chantagem. O ritual de conquista já não é mais a serenata ou o método intermediário de conquista, atualmente se escrevem textos enormes nas redes sociais, divulgando a briga e seu motivo, explicando quem está certo e quem está errado e contando com o apoio, palpites e comentários virtuais dos (pseudo)amigos. Deixando claro: o texto enorme é o gesto mais romântico que acontecerá para que a relação continue.

Onde foi parar o velho ditado: Em briga de marido e mulher, ninguém mete a colher? Onde está a discrição com a própria relação de vocês? Vocês realmente querem que eu saiba que vocês estão tendo sexo de reconciliação? Desde quando as briguinhas do cotidiano se tomaram proporções tão grandes? Vocês se matarão caso morem juntos, né? E a competição de quem sofre mais? O número de amigos que estão mais preocupados com seu término?

Está tudo desformatado e ninguém parece mais ligar para a privacidade. Se tu te arrependeu de brigar com o teu namorado, vai lá e liga pra ele, aparece na casa dele para conversar. Tu não precisas anunciar tudo para os outros. Inclusive guria que briga muito com o namorado - ou é grude demais mandando mensagens (que só tu acha) bonitinhas - está na verdade fazendo propaganda contra si mesma, pois quando terminar de vez com o atual, cara nenhum vai querer ter a vida transformada num inferno, seja pelas brigas por motivos inúteis  seja por excesso de amor e carência - e de quebra, zoação dos amigos (dele).

Pensem um pouco mais antes de compartilhar algo da vida privada, não se exponham por nada. Pensem em quem irá ler e, porque não, o que esta pessoa irá pensar sobre ti. Preocupar-se com a opinião alheia nem sempre é ruim, às vezes é a dose de realidade perfeita para que não se cometam erros que  tu te arrependerás posteriormente. 
Atualmente, pensar é a contra-cultura. Ser rebelde sempre está na moda, então, porque não aderir às modas boas, e não só as ruins?

9 de out. de 2012

automaticamente feliz.

Eu acho que já não sinto nada, pois as minhas palavras acabaram., como se eu fosse vazia e antiga. Não escrevo nem mais pra mim, nem pra ninguém. Talvez a vontade de não escrever se resuma à não precisar contar nada, rotular ou deixar o sentimento ser o sentimento que bem entender; embora eu não seja tão leve para deixar esse pensamento dominar a minha consciência. Aliás, ela já andou em crise.

Ainda penso demais sobre os meu erros (e ainda não consigo aceitá-los a ponto de falar sobre) e ainda penso demais sobre a facilidade que seria se eu apenas me fechasse. Tenho acreditado estar dividida entre o que acredito ser o meu antigo lado - cheio de indagações e que me draga para a minha cama - e o lado que tenho tentado construir - o aperfeiçoamento e a terapia. Sim, voltei e espero que dessa vez eu consiga ser sincera.
Aparentemente não consigo ser um híbrido e tenho ficado chateada pois não consigo ter coragem e perco o controle. Quero me aperfeiçoar, não mudar.
Montei um trauma.

Nunca me incomodei pela falta de nomes, rótulos e sempre preferi mas agora preciso montar frases e, será que consigo explicar? Entre tantas outras perguntas, volto meu foco para os estudos e esqueço. Continuarei esquecendo, mas esse é o mecanismo que mais declara para o mundo que eu realmente não estou bem, todavia tenho me sentido bem. Tenho me acomodado, relutantemente.
Contradição, disputa e baixa auto estima, combinação explosiva que me faz parecer uma bipolar.

Quero intimidade sem cobrança e quero para qualquer relacionamento que me envolva. A minha terapia tem me ensinado que não posso tentar mudar ninguém mas será que eu consigo me mudar para não querer mais isso?

Ari González


1 de out. de 2012

o ser humano é esperançoso

porque os dias em que sabemos que levantar da cama só vai piorar as coisas deveriam acabar mais rapidamente.
tem dias que tudo que queremos é ocupar espaço e sobreviver esperando que o próximo seja melhor.

'baby, please remember me once more'

29 de set. de 2012

convite ao transcendental

convido vocês à embarcarem em uma jornada de quinze minutos que mudará a vida de vocês. quando estiverem sozinhos, na madrugada (devidamente acompanhados por um copo da sua bebida favorita), sugiro que coloquem a música Dazed and Confused pra tocar baixo e, à medida que o Robert Plant vai começando a cantar, ir aumentando gradualmente. acho transcendental.

Dazed and Confused - Led Zeppelin - Royal Albert Hall

27 de set. de 2012

la ley de la vida


Os teus olhos me deixaram curiosa. Ao meio de um jogo de UNO, te olhava e percebia que lá no fundo, havia um misto de excitação e medo. O jogo acabou e tu continuaste com esse mesmo olhar. Todos os dias que se seguiram após, me confirmaram que tu tens esse olhar. É a tua característica única porque quando te olho no olho, me perco na tua alma.

Tu não mentes e nem omites, tu só olhas. É um olhar quase poético, como se estivesse extasiado pela beleza da natureza, ansioso por compreender cada minúscula partícula, mas com receio de tentar compreender e não conseguir, porque parece que isso é muito essencial para ti. Sinto como se a tua única vontade na vida é entender como tudo funciona mas que a razão sobrepõe a alma, sabendo que tu não conseguirás e, aceitando, começas a compreender tudo que está na tua volta. Não podes perder um milésimo de segundo e te despisses de todas as preocupações maiores. Teus olhos não mentem e refletem exatamente o que tu queres, porque tu não tens tempo para mentir com os olhos... é esforço inútil quando comparado ao esforço de cumprir o teu objetivo e compreender o universo.

Não duvido que um dia consiga [compreender o universo] e, meu amigo, se eu fosse apostar em alguém com a capacidade e responsabilidade pela mudança do mundo, eu apostaria em ti todas as minhas fichas. Tu já és um ser humano maravilhoso e eu só conheço o teu olhar. Que cresças exponencialmente, para o bem da humanidade.


"Esta es la tierra del oro y el sol,
sangre, camino, desierto y calor.
Entre tu karma y la ley del talión
asi es la ley de la vida mi amor"
La ley de la vida - Fito Paez

20 de set. de 2012

"Foi o 20 de Setembro, o precursor da liberdade"

daqui


"À frente do estagnado porto de Buenos Aires, do outro lado do estuário, na banda oriental do rio Uruguai ou Banda dos Charruas - onde os gados introduzidos pelo Governador Hernandarias iam gradativamente se reproduzindo - não havia ainda nenhum estabelecimento fixo espanhol. Todavia, a introdução do cavalo começava a mudar os hábitos das tribos andarilhas. A galope, as boleadeiras já deixavam de caçar avestruzes e veados para caçar gordos bois chimarrões (selvagens) nos campos realengos (do patrimônio do Rei). Também alguns espanhóis dos povoados do rio Paraná começam a trilhar, aventurosamente, aquelas planícies sem-fim, onde a subsistência se garante pela carne fácil. Nem accioneros nem faeneros; espontaneamente, surgia uma terceira classe de homens, à margem do rei e da lei. Muito pouco numerosos, ainda, mas já com seu lugarzinho assegurado na História do futuro. Do ajuntamento de brancos com as índias vão nascendo piás (che piá, meu coração), que ao crescerem serão chinas ou chirus (che iru, meu amigo). Quando eventualmente contratados pelos accioneros ou faeneros para algum serviço de caça ou coureada de vois, ganham um nome: changadores. Mas preferem viver sem fazer nada, cavalgando sem rumo, andarengos sem casa mas com a carne garantida para o espeto. Pouco se preocupam com o futuro, ou quem sabe nem tenham uma noção sobre o amanhã. Por causa desse viver de gáudio, de despreocupação, de gozo, ganham outro nome: gaudérios.

Instintivamente aplicaram ao seu universo o mesmo raciocínio dos corsários. Só é dono das coisas quem tiver condições de defendê-las.

A terra, o céu, o vento e a solidão, o cavalo ou o boi selvagem - tudo isso é de ninguém."

Rio Grande do Sul, prazer em conhecê-lo - Como surgiu o Rio Grande
- pág. 22 - 
Barbosa Lessa

à queima das cartas e às páginas viradas.

muita coisa aconteceu desde a última postagem e muita coisa já vinha acontecendo.
desde a última vez que estive aqui tive que levar o meu notebook para formatar e quando a atendente me perguntou que arquivos e pastas eu gostaria de salvar, eu fiquei pensando. sabia que alguém me perguntaria isso e, na noite anterior me deitei pensando na quantidade de arquivos que eu possuo em um simples HD.
pois quando ela me perguntou, respondi "apenas a pasta de músicas". acho que ela ficou abismada com a minha resposta porque logo falou "sabes que a gente pode salvar tudo né?" e eu só sorri e disse:
- eu sei mas já tenho salvo tudo que eu preciso.
a guriazinha ainda me perguntou se eu tinha certeza... mas é claro! porque ela estava sendo tão insistente?

a verdade é que eu não tinha salvo no meu HD externo a minha pasta de textos e mais um monte de documentos que se encheram de palavras na hora do desespero. mesmo assim não pedi pra que a guriazinha salvasse-os e nunca compreendi porque uma parte de mim insistia em implorar para que continuassem comigo.

depois de um tempo tu percebes que te prendes a essas 'partes' de ti que foram exteriorizadas. senti que estava na hora de deixar pra trás os sentimentos que eu já havia sentido e talvez dar lugar para os que eu ainda irei sentir. é, argumentos bem clichês mas eu me sentia 'cheia' como se não tivesse mais para onde ir e nem saber o que sentir. parecia que eu estava sentindo tudo junto, todas injustiças que eu já sofri ou vi alguém sofrer, os amores que deram ou não certo, as inseguranças e principalmente todos os medos. espero que na minha cabeça, reiniciar o notebook funcione como um equivalente ao esquecimento, tentar uma nova 'filosofia de vida' já que a anterior só me levava à terapia.

espero que aos poucos eu vá esquecendo as coisas que eu deixei e dando valor aos novos sentimentos. tomara que eu não sofra tanto.

4 de set. de 2012

o (des)respeito aos mais velhos

Saí da dentista e me encaminhei pra parada de ônibus mais próxima. Esperei um tempo razoável e entrei em um dos vários ônibus que me levariam pra casa. A linha já é conhecida, FURG - Vila Maria, ou seja, leva a Universidade Federal do Rio Grande campus Carreiros.

Em seguida que entrei no ônibus me arrependi: consideravelmente apinhado. Sem conseguir chegar nem ao menos ao meio do veículo, fiquei em pé perto da roleta, tentando olhar pelo lado positivo, afinal o ônibus das 07:20 da manhã que eu pegava todo dia - aaah, a greve - é pior e o caminho maior, então vai dar tudo certo.

Em uma parte do caminho, as paradas ficam realmente grudadas, com mais ou menos uma quadra de diferença; fato que sempre me foi muito curioso.
Eis que então um senhor com seus 60 anos, sentado próximo a mim, se levanta e dá sinal. Inicia sua jornada rumo ao final do ônibus, de forma que o perdi de vista. 
Enquanto isso, cá com meus botões não compreendi porque o cobrador não sugeriu ao senhor descer pela porta de deficientes, que era bem mais próxima, poupando o senhor do difícil caminho apinhado de pessoas e sacolas. Notei então que uma mulher desceria na mesma parada, dando mais tempo para que o senhor chegasse à porta. Eu pelo menos, quando percebo que a outra pessoa está com dificuldade de chegar, ou uma paradinha esperta no degrau para que o motorista seja 'obrigado' a esperar.

Então o ônibus parou, a mulher desceu e rapidamente tentou seguir caminho e logo se ouviram gritos e protestos chamando atenção do cobrador, que avisou ao motorista que o senhor ainda não havia descido. Foi então que os dois trabalhadores agiram como se estivessem fazendo um favor ao senhor, abrindo novamente a porta.

Claro que o senhor nem ficou sabendo mas eu fiquei e infelizmente não estava de fones de ouvido e pude escutar todo protesto do cobrador, conversando com um amigo, em alto e sarcástico tom:
- É, eles ficam sentadinhos né, daí reclamam da gente ainda! Eles que gostam de ficar bem sentadinhos nos lugares e a gente é que tem que ficar cuidando! Não tenho visão ultra violeta (????????) pra olhar.

Só nesse trecho eu já me imaginava colocando o dedo na cara do sujeito e falando poucas e boas. Afinal de contas existe um jogo de espelhos para que ele justamente CUIDE se ainda descerão mais pessoas. Outra, era um idoso! Se eu, no alto dos meus 18 anos, bem fisicamente, tenho problemas para atravessar um ônibus lotado de pessoas e sacolas, que dirá um idoso que estava justamente descendo na parada do Hospital do Coração!

Educação, empatia e respeito com o próximo foram parar aonde? Creio que foram substituídos pela ignorância, incompetência e claro, pela visão ultra violeta.

3 de set. de 2012

pampa no walkman


"Fácil falar, fazer previsões, depois que aconteceu. Fácil pintar o quadro geral da janela de um arranha-céu. Sem ter que sujar as mãos, sem ter nada a perder. Sem o risco de pagar pelos erros que cometeu.

Fácil achar o caminho a seguir num mapa, com lápis de cor. Moleza mandar a tropa atacar na tela do computador. Sem o cheiro, sem o som, sem ter nunca estado lá. Sem ter que voltar pra ver o que restou.

Fácil demais fazer previsões depois que aconteceu. Fácil sonhar condições ideais que nunca existirão.

Sempre à distância, sem noção... O que rola pelo chão não são as peças de um jogo de xadrez!
Com a coragem que a distância dá, fica mais fácil. Em outro tempo em outro lugar, tudo é tão fácil!"

28 de ago. de 2012

¡Adiós, Menina!

- Ah, menina, deixa disso. Vamos sim ao show juntos.
- Não, não posso.
- Mas ein, vamos, vamos ficar bem pertinho, ver se aquele cabelo loiro é real! Sabe, menina, acho que ele já está na idade de ficar grisalho e talvez esteja usando peruca.
- É, talvez ele já esteja grisalho mesmo mas não quero ver, prefiro pensar nele nos anos 80. Era lindo.

O assunto morreu e vi que a mão dele encontrou a minha, não movi um músculo.

- E então, menina, nove horas de sábado passo na tua casa. - voltou ele com o assunto. Permaneci quieta e então senti sua mão tocando meu rosto. 
Olhei fundo em seus olhos e me enxerguei. "Menina". Aquilo não fazia sentido e não era certo.
- Olha, não vou ao show contigo, pára. - retirei as mãos dele de cima de mim com firmeza e as coloquei suavemente sobre seus joelhos.
Me inclinei para levantar mas ele segurou a minha mão. Olhei, com raiva, e disse:
- Não, não sou tua menina, nunca mais me chama desse jeito, ninguém mais vai me chamar assim e eu vou simplesmente deixar! Tu é daqui, me chama de guria! Menina! Me larga e me respeita.

E saí.
Foi só. Que audácia... menina, ele!

22 de ago. de 2012

o tradicionalismo sendo ensinado desde sempre


Bonito dia de sol no Balneário Cassino e a aconchegante casa da vó. O Arthur, no alto do seu ano e dez meses passa o tempo todo correndo, chutando lindamente de esquerda a “bó” e empurrando o carrinho vazio, onde o correto  seria alguém empurrá-lo – nossas costas agradecem e acho que ele foi ensinado errado propositalmente.

Nessa idade estamos acostumados a ficar o tempo todo vigiando e correndo de um lado para o outro, já que não adianta dizer para a criança não mexer, ocasionalmente ela vai e mexe igual.

Foi então que em uma pausa para um chimarrão, o Arthur pediu colo. O ato em si já me enche os olhos d'água porque agora ele já é metido a gente grande e quer sentar sozinho na cadeira e fazer tudo sozinho. Ainda nem saiu das fraldas e já diz "no, no, no" balançando a cabeça crespa negativamente.
Quando eu não dei muita bola para os braçinhos estendidos ele falou "Didi, có" e aí tive vontade de apertá-lo até saltar os olhos (haha).

Tipicamente, todos os objetos afiados e quebráveis foram removidos de cima da mesa mas foi com o chimarrão que ele se entreteu. Mostrei o "vavalo" da cuia e, com o chimarrão já quase frio, coloquei a bomba perto da sua boca para que ele provasse. O Arthur me olhou como quem pergunta "e eu posso?" e falou 'no, quenti'. Apenas ri, pelo menos ele não se queimaria.

Então ele apontou pra térmica onde tem um desenho de um cara montado num cavalo, quando trouxe a térmica para perto, ele rapidamente aponta e fala "vavalo", sorrindo. Concordei e, apontando para o guri em cima do cavalo, completei "e esse é o gaúcho". Após algumas repetições da minha parte ele apontou para o rapaz e falou "ggucho", sorrindo orgulhoso por ter aprendido mais uma palavra. Quando ele fizer dois anos o ensino a pedir para tomar chimarrão, por hora contentemo-nos com os desenhos das cuias e térmicas.

20 de ago. de 2012

meus amigos de fé...

é engraçado a forma com que as pessoas te tocam. um dia, aqueles que tu nunca gostasse da cara poderão se tornar teus melhores amigos.
sei que ainda vou conhecer milhões de pessoas mas fico pensando nas principais características das pessoas que quero bem. por mais que a vida seja corrida - e eu não seja a amiga exemplar - insisto em marcar um café, um cinema, uma janta ou uma ida ao teatro com os poucos e bons.
nunca fui de pensar que os melhores amigos eram os que estavam contigo no dia a dia, até porque sempre desconfiei dos que não se desgrudam. acho que todos merecem sua individualidade e ligar pro outro pra falar que foi ao banheiro não é a minha praia.

prefiro aqueles que podem passar meses mas que te ligam ou mandam uma mensagem perguntando como está a tua vida, a mãe, o avô, o cachorro e o papagaio. 
hoje encontrei uma amiga que nunca foi o meu esteriótipo de melhor amiga mas a cada dia me surpreende e me faz gostar demais. ela é o tipo de pessoa que eu tomo como exemplo de vida e sinto orgulho de dizer que sim, ela é minha amiga. além de ser linda é uma pessoa admirável e que eu só quero o melhor. é quase impossível descrever a felicidade que eu senti quando soube que ela estava namorando. acho que se tivesse sido comigo não teria ficado tão feliz. posso até me equivocar mas aonde ela precisar eu com certeza quero estar do lado, sendo o mais prestativa possível.

tem gente que desperta o teu melhor e te querer ser melhor diariamente. tem gente que te faz bem com um sorriso, um abraço e uma mensagem simples no meio da tarde. tem gente que nem sabe que é tão querida, tem gente que acha que é querida demais. tem gente por quem tu cruzaria o Atlântico só pra ver de novo. tem gente que é teu melhor amigo simplesmente sendo teu amigo e só.


"Deixa eu dançar pro meu corpo ficar odara
Minha cara minha cuca ficar odara
Deixa eu cantar que é pro mundo ficar odara
Pra ficar tudo jóia rara
Qualquer coisa que se sonhara
Canto e danço que dara"


Odara - Caetano Veloso

3 de ago. de 2012

teorias estúpidas



sabe quando tu tens medo de te aproximar de alguém que um dia já foi muito íntimo teu, por simples e bobo medo da amizade não ser mais a mesma coisa? acho normal sentir isso porque nem sempre a conversa flui naturalmente. já não falo mais sobre contar as coisas da tua vida atual, porque acho que as melhores amizades não se constituem disso, mas falo sobre as conversas - maravilhosas - sobre beterrabas e teorias furadas.

mas existem algumas pessoas com que tu sabes que pode-se até ter medo, mas vocês nunca ficarão sem assunto e tudo será como se vocês tivessem se falado ontem. acho que a grande sacada não é falar 'estou namorando fulano' mas sim 'fulano, meu namorado, me levou ao show e nossa, comecei a escutá-los e estou adorando, já comprei tal cd...'

quando esse nível de cumplicidade ocorre por anos a fio, começo a pensar sobre a divisão de almas. é pura bobagem essa minha teoria mas ela me explica muito bem muitas questões que assolam a minha cabeça ocasionalmente.
acredito que no início de tudo, em um mundo que eu não acredito (essa parte ainda não está bem elaborada), havia um número finito de almas e estas se dividem, entrando um pedacinho em cada nascido vivo. caso encontremos alguém com um pedaço da mesma alma, viramos amigos, nos reconhecemos. simples assim, dividimos algo muito profundo. nem que seja apenas um olhar.

é pura bobagem mas é uma das fantasias realistas que eu inventei e que talvez alguns amigos concordem.
o mais importante é que eu procuro manter quem eu me identifico, mantenho o máximo de pedacinhos de almas perto de mim para quem sabe um dia formarmos um só.



idiotice.

25 de jul. de 2012

'quanto vale a vida?'

daqui
mesmo sabendo que nenhum canal passa algum programa que entretenha, insistimos em trocar os canais durante a madrugada vazia e fria.
mesmo sabendo que Porto Alegre, Gramado e o Chuí serão passeios já conhecidos, insisto em ir. sei que me entretenho como se fosse da primeira vez, sei que olho as mesmas paisagens com os olhos mais acurados e caídos.
mesmo sabendo que os sonhos não se realizarão, insisto em sonhar.

há quem diga que sou burra, eu só acho que tenho esperança demais. vivo esperando, mas vivo. e sobrevivo, a duras penas mas quem não?

mesmo sabendo que alguém surpreendente não virá, eu espero; e espero que eu mesma me supreenda. 
e espero.
e vivo.


17 de jul. de 2012

sorte


"o que está mal a respeito disso
tudo
é ver as pessoas
bebendo café e
esperando. gostaria de
embebê-los todos
na sorte. eles precisam bem
Coffee
mais do que eu.

sento nos cafés
e os vejo a
esperar. não creio
que haja muito mais
a fazer. as moscas
vão pra lá e pra cá
nos vidros das janelas
e bebemos nosso
café e fingimos
não olhar uns
para os outros.
espero junto com eles,
entre o movimento
das moscas
as pessoas vagueiam."



Charles Bukowski

15 de jul. de 2012

dia dos homens e mulheres recalcadas

durante umas 3 horas eu me controlei para não reclamar sobre o que as mulheres estão falando sobre o Dia dos Homens. inicialmente eu nem sabia que existia um dia para os homens e muito menos que estávamos já no dia 15 de julho.
pois então eu descobri, e descobri também que nas redes sociais o comentário das mulheres se resume a ironizar que para a maioria dos homens seu dia seria apenas no dia 12 de outubro, ou seja, dia das crianças.

eis que venho aqui defender os homens e sim, eu provavelmente sou machista. as mulheres (e não tenho medo de generalizar) pensam demais. é algo natural, assim como se atropelar nas palavras e pensar mais rápido que conseguimos falar. a diferença entre uma mulher falante e outra quieta é o autocontrole, mas todas nós falamos pelos cotovelos, até que aprendemos a nos controlar.

mulheres, vocês não tem que reclamar dos homens porque na maior parte das vezes quem inventa a fantasia somos nós e daí reclamamos que os caras não atendem a nossa expectativa mas claro, queremos o príncipe encantado! a culpa não é dos homens se mal conhecemos um cara legal e as amigas já pensam no nomes dos filhos!

pelo contrário, os homens são bem mais diretos e se dependesse deles o mundo seria bem mais objetivo. acontece que os coitados tem que pagar jantar durante noites e mais todas aquelas despesas só para poder te comer. é a mulher que acaba confundindo as coisas e não percebe que durante as 3 horas que tu falou durante o encontro, o cara escutou 1 hora, no máximo. daí quando eles não ligam no dia seguinte dizemos que ele nos iludiu, que os homens não prestam e que só tem segundas intenções enquanto ele foi bem objetivo e tu que enchesse de firula a situação. dêem uma chegada aqui e olhem a propaganda da vivo abaixo e vocês entenderão o que eu falo. nós somos muito chatas.



e dando esse exemplo falo apenas das mulheres 'normais' porque ainda existem as vagabundas, que ao meu ver não tem nada que reclamar dos cafajestes. elas confundem feminismo com putaria.

é claro que toda regra tem sua exceção e concordo que existam homens que, mesmo sendo caras feitos ainda agem como crianças e se encaixam em todas nossas reclamações mas a maioria dos homens não são como nós os pintamos. mulheres, já ouviram falar que o cara dos nossos sonhos está preso na 'área da amizade'? pois então! novamente a culpa é nossa por não dar a devida atenção a quem nos quer bem e insistir em quem deixa bem claro que só nos quer para o 'one night stand'. nós fingidas-auto-suficientes, achamos que podemos mudá-lo e moldá-lo da forma que quisermos. não se faz isso com ninguém.

finalmente, parem de ser burras, existem sim homens-criança mas para cada um existem outros 10 que são apenas teus amigos. não são eles que complicam a nossa vida, somos nós que não nos atemos à linguagem corporal e à obviedades na nossa cara e continuamos com uma mentalidade conservadora que só nos faz sofrer. se nós não estivéssemos tão desesperadas por namorar, casar e ter filhos, não atropelaríamos as etapas essenciais para realmente conhecer pessoas e encontraríamos o chinelo pro nosso pé cansado. romantismo ainda existe, educação e flerte também.
já li em algum lugar que a feminista é a primeira a querer que o cara abra a porta do carro pra ela e pague todas as contas do encontro. vocês reclamam que o cara não presta atenção em vocês mas vocês também subjulgam a capacidade do dito cujo, além de não conseguir manter um lábio encostando no outro.



12 de jul. de 2012

dramaticismo e álcool gel


Comecei a perceber as minhas loucuras e regras próprias quando me ‘nasceu’ uma bolota doída embaixo do ouvido. No 1º dia não dei bola, no 2º dia doeu, no 3º dia sonhei que esse era o sintoma de uma doença terminal e assim, fui ao médico. Não é nada demais, só uma inflamação e nada que um maravilhoso anti-inflamatório não resolva.

Enquanto eu e a minha mãe esperávamos no saguão do Centro Clínico, me apavorei com a quantidade de pessoas que estavam lá. É claro que não sou alienada, sei da situação de sucateamento que o sistema de saúde enfrenta e que a situação piora durante o inverno, cheio de gripes, rinites e outras coisas ranhentas e nojentas. Mesmo assim, eu juro que não esperava ver aquele saguão enorme lotado simplesmente porque até então nunca tinha visto. Me consulto lá desde os 6 anos e em 12 anos eu nunca tinha visto lotado.

Eu, que saio de uma gripe ralada de, no mínimo 2 semanas de podridão, não quero adquirí-la novamente. Tenho evitado contato com outras pessoas doentes, não abro mão da manta, não pego friage e tomo a minha vitamina C diariamente. Sempre tentei me manter afastada dos germes e só agora me dei conta que, sempre que manipulo dinheiro ou ando de ônibus, me recuso a fazer qualquer coisa com as mãos até que as lave corretamente. Sempre que chego em casa, troco de roupa e quase não entro no meu quarto com os sapatos da rua. Não sou tão neurótica assim, afinal tomo chimarrão (mas inventei a minha própria regra que é não derrubar o morrinho até que a primeira térmica seja terminada), ocasionalmente lambo os dedos e esqueço de lavar e posso comer no mesmo prato que alguém, usando o mesmo talher e o mesmo copo (desde que seja de alguém amigo), entretanto não suporto que coma-se da panela ou, se comer, que coma-se toda a comida/doce.




Enfim, fui forçada a ficar no mesmo saguão – não muito arejado - que outras 50 pessoas doentes e tossindo, meu lado hipocondríaco surgiu loucamente. Conseguia enxergar os germes saltando das tosses alheias e vindo parar no ar que eu respirava. Estava certa que todos tipos de gripe haviam sido introduzidos no meu organismo.
Pra piorar, tinha um médico – muito simpático – que APERTAVA a mão dos pacientes. Ou seja, a criatura vinha consultar, tossia e espirrava na mão, não lavava, apertava a mão do médico. Depois da consulta ele seguia a lista de nomes, chamava o próximo, apertava a mão do mesmo, dando lhe os germes dele e do paciente anterior e assim ia. Um ciclo vicioso e perigoso de germes e mais germes. Nas minhas fantasias, nem um banho de álcool gel deixava o médico limpo.

Com toda a minha sorte e ironia do destino, foi ele que me atendeu e por causa do seu sorriso tive que apertar a mão dele. Durante o aperto, visualizei nossas mãos e vi os germes tipo piolhos, pulando da mão dele pra minha e esperando que eu coçasse o nariz ou os olhos para que eles fossem bem vindos ao meu corpo, que passa por um delicado momento de recuperação. 
Durante a consulta ele afirmou que está gripado. Eu, que fui ao médico por causa de uma bolota me vi forçada a quase contrair peste bubônica. Depois de todo esse "passeio" minha mãe ficou louca comigo e mandou eu ir me tratar.


Lição de hoje: Sou quase paranoica. Entretanto, sem apertos de mão, sem tossir nas mãos, sem bolotas embaixo do ouvido, meu lado hipocondríaco não suporta tudo isso. Mais uma situação que reforça a loucura e regras próprias que invento.

Lembrete: Não comentar mais minhas loucuras, senão me chamam de louca e dramática e eu fico delirando se realmente sou tão louca e tão dramática, o que me deixa mais louca e mais dramática. Com uma bolota embaixo do ouvido.

P.S.: Sei que a atitude do médico é louvável e muito humana, considero-o muito simpático e provavelmente é um ótimo médico que, mesmo gripado atende os pacientes da melhor forma possível. Eu que sou uma chata dramática que vejo germes em todos os cantos.

9 de jul. de 2012

la pronuncia!


Hoje sentei no chão da minha sala, apanhando sol e tomando um chimarrão. Espalhei livros, cadernos, artigos auxiliares à gripe pelo tapete; apoiei almofadas.
Tudo isso para estudar italiano. Fiquei horas falando com o computador e a cada palavra repetida, mais empolgação. De vez em quando largava uma risada em seguida de um erro terrível - tentem falar guerra como os italianos! - ou uma exclamação sobre a minha perfeição fantasiosa na pronúncia. Eu não sei nada ainda, só sei repetir o que 18 anos de influências ítalo-braZileiras me ensinaram.

A lição de hoje foi: ao me perguntarem se estou bem, não vou mais responder “trankilo” imitando pronuncia castelhana – tão fortemente encontrada aqui no Sul – vou responder “trancuílo” fingindo uma colônia italiana forte.

7 de jul. de 2012

"I'll try anything once" Casablancas, J.

algumas coisas são pura perspectiva. assim como se a pia do banheiro, de repente pareça maior; assim como a nossa ignorância para com outro idioma - como eles conseguem se entender nessa língua?

perspectiva sobre como os equipamentos e aparelhos eletrônicos funcionam. surpresa ao perceber que talvez nós estejamos sim, errados.

nesse jogo insano às vezes esquecemos de que somos humanos e esquecemos do que realmente importa.
será que um dia saberemos?

3 de jul. de 2012

that's my spot

Meu nome é Carolina De-Zotti e eu tenho um problema. Aparentemente tenho sofrido da síndrome do Dr. Sheldon Cooper. Acho que estou ficando um pouco maniática demais.



Na minha sala existem dois sofás, um de dois lugares e outro de três lugares. Vendo a final da Eurocopa, sentei no sofá de dois lugares - que não me é de costume sentar - pois a minha mãe estava sentada no lugar que sempre sento. Passei todo segundo tempo reclamando mentalmente da dor no pescoço que estava sentindo por forçar meu pescoço para ver a tevê. Pois veja bem, estar confortável é primordial.

Eu tenho o meu lugar e a minha mãe estava sentada nele. Mãe é mãe, ela pode sentar no meu lugar, pensei. Gosto do ângulo que o meu lugar forma com a tevê, não é um olhar direto, tem uma leve inclinação pra esquerda e quando se coloca o notebook no colo o olhar fica dividido o que não resulta em iluminações que atrapalham que usa óculos.

O meu lugar - o lado direito do sofá de três lugares - é perfeito pois eu tomo chimarrão e preciso de uma mesa auxiliar para que não tenha que colocar a cuia e a térmica no chão - o que já me rendeu muitos chutes na cuia e aspiradores no tapete. Do lado do meu lugar tem uma cadeira - daquelas de madeira bonita e estofados de florzinha - a qual eu viro o estofado ao contrário e a madeira dá lugar a uma ótima mesa auxiliar, bem na altura que eu preciso.

De vez em quando a minha cabeça pesa e parece que o meu pescoço não vai aguentar, então uma almofada é colocada atrás da minha cabeça, apoiada entre o sofá e a parede e fica perfeito, sem esforço nenhum. Existe também o meu banquinho - ou mochinho, como quiserem - que me permite esticar as pernas.

Nos dias de sol, o meu lugar não fica em contato direto. Tenho sol nas pernas e o sol não causa reflexo na tela da tevê. Em dias de visitas, me encontro no meio da conversa e com apoio para os braços.

O meu lugar no sofá é perfeito e é meu. Todo mundo já sabe que é o meu lugar e até o episódio da final da Eurocopa, haviam me respeitado.
Vou dar uma de Sheldon quando sentarem no meu lugar, já estou avisando.

18 de jun. de 2012

"Fé cega e pé atrás"


(EngHaw)

Essa história de fé e religião tem me ocupado bastante a cabeça ultimamente. Volta e meia vem alguém me perguntar no que eu acredito, se eu rezo ou porque não vou à missa.
Não quero que me perguntem isso, porque eu não quero responder. Acho que ter uma resposta é se limitar demais, se prender a uma diretriz de uma religião e, quanto a isso, na minha visão de mundo sempre existiram dois grandes grupos: os que têm fé  e os que não têm.
Quem é católico, protestante, espírita, umbandista ou que crê em alguma coisa, se encaixa no grupo dos que tem fé. Os que realmente não creem em nada e fazem jus ao título de ateu são, pra mim, os que não têm fé. 

“Simples e muito infantil” foi o que um dia me disseram. Desde então eu não falo mais sobre o assunto, mas nessa semana ele veio me martelando a cabeça de forma descomunal até que ontem, tive uma conversa sobre oração com a minha mãe.
De forma geral, olho todas as religiões como uma coisa só. É claro que não tenho conhecimento sobre todas e posso estar falando bobagem, mas acredito que os fundamentos sejam os mesmos. Acredito que as religiões tenham sido criadas pelos líderes de comunidades para simplesmente colocar ordem, explicar ao ser humano que existe um caminho bom e que, se tu não sucumbires à tentação do caminho ruim tu serás recompensado.

Essa é a minha maneira infantil de olhar a religião e todas as vertentes que saem desse grande conceito. É a forma de explicar, universalmente, que não é legal matar, machucar, roubar ou prejudicar de qualquer forma o próximo. Desta forma, se tu ignorares o teu instinto animal, tu serás civilizado (superior a todos os outros animais do mundo) e, no fim, terás uma recompensa pelo ‘bom comportamento’. 
A religião é a antiga (ok, não tão antiga, mas deveria) forma de influenciar massas, a forma de organização política que precedeu à atual, caso contrário nunca teríamos nos desenvolvido e o caos reinaria. É a forma de instruir todo mundo sobre o certo e o errado (pensem, por exemplo, nas idades anteriores à Idade Média).

Já a fé, é natural do ser humano. Sempre existiram questionamentos como de onde viemos, pra onde vamos, porque estamos e se estamos sozinhos. Questionamos sobre a existência do Universo, o propósito dos seres humanos, da Terra, se existe algo além do nosso plano ou Universo e estas perguntas-chave são o que continua nos impulsionando na nossa pesquisa sobre o que há além da Terra.

Por isso, reforço o argumento sobre os dois grandes grupos, independente de onde eles depositam sua fé.
Acredito que se as pessoas ignorassem as vertentes da religião, sem fanatismo ou conversão e se prenderem apenas ao fundamento mais básico, o amor, haveria a paz mundial e o ser humano seria capaz de alcançar o ponto máximo em sua evolução, afinal pressuponho que os ateus também amem.


“Só o amor faz o mundo andar”


12 de jun. de 2012

da rua

Em épocas de virada cultural



eu já não presto mais atenção. quando estou na rua, não me distraio mais pensando nas histórias boas e ruins que  as pessoas contam, involuntariamente, com seus gestos. deixei meu lado humano em casa, esquecido por baixo das tantas roupas que o frio daqui do sul nos força a usar.
perdi o poder do auto-conhecimento nos olhos alheios e me desesperei.

5 de jun. de 2012

Café nos dias de frio.


- Eu sei que tu sempre achaste que poderia fazer tudo, só que agora chegou o momento da verdade. O momento em que todos têm que fazer a sua escolha e focar. – disse a voz arrastada.

Ali no chão da sala, em mais um dia lindo e ensolarado de frio, existia uma guria que não queria ser só uma física ou só uma pseudo escritora, ou só uma oceanógrafa.
Quando era criança, diziam que as pessoas poderiam ser tudo que quisessem, desde que sonhassem. É claro que não é verdade, assim como não existem príncipes encantados.
- A questão é: Porque que falam isso? – falei, irritada. - Certamente não vou falar isso para os meus filhos.
- Ao que tudo indica, nós precisamos de algum momento na vida em que realmente acreditemos, com todas nossas forças, que podemos mudar o mundo. – a voz me respondeu.
- É, pra que exista, em cinco gerações, alguém que consiga mudar o mundo.

Depois de um tempo eu deixei ele ‘sair de mim’. Deixei-o sentar no sofá e me encarar.
- Me fala, Dylan, como tu conseguiu mudar o mundo?
Obviamente não tive resposta. Ele ficou ali sentado usando seu chapéu que escondia seu rosto, longe do sol.

- Não tais com frio? – perguntei. O silencio estava me inquietando, não havia chamado-o para que ficasse quieto.
- Não, mas tu podias fazer um café pra gente. Podíamos ir pra cozinha, sentar em cadeiras. Tens que saber também que não é tu que me chamas, metida. -  Dylan falou calmamente, de forma simpática até.
- Não quero café e nem cadeiras. Quero chimarrão e sol, a cozinha é triste. Preciso descobrir que caminho eu quero seguir, podias me ajudar. Eu gosto de ti, agora.

- Por quê? – depois de um tempo ele finalmente sussurrou. – Porque tu subitamente começaste a gostar de mim e porque tens que descobrir um caminho... Existe uma coisa chamada hobby.
- Eu sei e sempre achei que poderia ser uma física que escreve, mas estou vendo que não vai adiantar. Não dá pra escrever bem e pouco. Todos os escritores que eu admiro escrevem páginas por dia. Eu calculo páginas por dia. Pra mim é mais natural resolver integrais e fazer gráficos do que montar frases e fazer um texto sobre a economia do mundo, por exemplo.
- Mas todos os escritores que tu admira escrevem páginas pra que uma frase valha a pena o esforço. A maneira objetiva de pensar é escrever páginas. A tua maneira é só diferente.
- E ineficaz, ruim.

- Então porque tu tens medo de te entregar à escrita?
- Porque eu não gosto do que ela me traz. Prefiro calcular.
- Tu te importas demais, com tudo. – falou Dylan, pausadamente. - Preciso de um café.
- É só colocar água na chaleira, se é que já não tem. Me deixa aqui.
- Em qualquer profissão tu vai precisar escrever, a diferença é se tu quer que escrever seja a tua profissão ou apenas faça parte dela. É uma decisão simples, assim como levantar e ir fazer um café pro melhor compositor já vivo.
Hoje ele estava, surpreendentemente simpático. Sorri bobamente.
- Tu sabias que eu adquiri toda tua discografia? – perguntei, sabendo que ele sabia que sim.
- Mas claro.
- E o que tu sentiste disso?
- Nada. Espero que tu saibas que milhões de pessoas no mundo têm a minha discografia. Milhões de pessoas no mundo fantasiam comigo e milhões irão fantasiar.
- Então é isso? É só admitir que tu é O cara?

- Mas claro que não. Eu ainda acho que não sei escrever. Eu ainda me pergunto por que as pessoas prestam atenção no que eu faço e meus ídolos ainda estão anos-luz a minha frente.

Chega a ser idiota. A gente sempre vai achar que não é muito bom. Independente da carreira que eu escolher. 

- E o café? – Dylan sorriu maliciosamente. Não respondi, só olhei pra ele. – Me responde, porque mesmo que o sol fique atrapalhando a tua visão, tu mesmo assim ficas sentada na mesma posição?
- Porque eu to com frio.
- Então, tu continuas aí por uma causa maior. – ele suspirou, impaciente.
- Tá, e ai? Mesmo sendo uma causa maior meu pé ainda tá gelado.
- É, mas tu não entendeste a metáfora, tais precisando de um café. – e sorriu com sua boquinha pequena.

Parei por uns instantes, observando as alpargatas já gastas. Dylan cruzou as pernas, voltei a encará-lo.
- Ok, eu preciso descobrir qual é a minha causa maior. – falei com dificuldade. - Não me ajudaste muito.
- Tens certeza? Vamos pra cozinha?
Braba, me levantei e fui tomar um café com o Dylan.