Ajeitou os cabelos castanhos e cacheados em um coque muito bagunçado, caminhou até a estante alta e repleta de CDs organizados em ordem alfabética e escolheu o clássico 'White Album'; nunca foi muito fã dos Beatles, mesmo reconhecendo sua máxima importância para a música em geral. Havia alguma coisa em Paul McCartney que ela não conseguia aceitar, talvez fosse um cinismo ou alguma coisa de vilão que ela achava que não combinava com a imagem como um todo da banda The Beatles; mas era uma opinião dela.
Admirou a capa do álbum e sorriu ironicamente. Colocou o encarte de volta ao seu lugar e acendeu um cigarro. Abriu a janela para que o fim de tarde adentrasse na sua sala e sentou-se na varanda a pensar.
Após alguns minutos sentada olhando a paisagem e apenas escutando sem julgar levantou-se e apanhou um copo de whisky. Quando ela terminou sua bebida já havia anoitecido, ela então fechou a janela e fez o que tinha que fazer: organizar o álbum de fotografias.
Sentou-se no chão, em frente à estante e de costas para a janela e apanhou as fotos. Por um minuto hesitou em continuar, fazia apenas um mês.
Talvez a vontade repentina de escutar Beatles se devesse ao fato de seu pai sempre ter sido fã. Quem sabe isso a faria sentí-los ali com ela naquele momento tão difícil.
Levantou-se uma última vez para apanhar, dessa vez, a garrafa toda de Jack Daniel's que estava próxima dela, em cima da mesinha de centro. Voltou para o lugar onde estava sentada e começou a remexer nas fotos. À medida que ia organizando ia chorando e claro, bebendo.
Ou ela chorou tanto ou ela bebeu tanto que adormeceu no tapete da sala, ao lado das fotos e ao som do John Lennon.
Abriu os olhos e percebeu onde estava, sentou-se com dificuldade e apenas observou as fotos, eram momentos eternizados de seus pais, ali ela poderia olhar para eles quando quizesse, quando a saudade apertar o coração.
Novamente quis terminar o trabalho e ficou horas a organizar as fotos, parando apenas para comer e tomar água, bastante água. Escolheu a melhor foto com a intenção de colocá-la em um porta-retratos ao lado da discografia dos Beatles.
Ela lembrava direitinho como havia sido tirada a foto. Ela ainda era criança e estavam no zoológico, a intenção da foto era que aparecesse o hipopótamo mas eles o taparam, mais especificadamente ela havia tapado o hipopótamo. Naquele dia eles tiraram fotos de todos os animais afim de fazer um único álbum dedicado à viagem, ela tinha seis anos.
Quando as fotos foram reveladas ela chorou durante uma semana, culpada que havia tapado o animal na foto. Tolice, coisa de criança, naquela época a foto era importante, a viagem havia sido importante. Ela sorriu com lágrimas no olhar.
Buscou o porta-retratos e pôs a foto no lugar escolhido. Admirou-a por alguns instantes, acendeu um cigarro e voltou à varanda quieta. Roeu as unhas como quando era garotinha. Ficou ali até o fim da tarde, mesmo querendo ficar por todo resto da vida. Cantou alto e desafinada, com voz de choro o refrão que seu pai costumava cantarolar para ela como canção de ninar: 'Anna you come and ask me girl to set you free girl / You say he loves you more than me so I will set you free'. Cantou chorando e rindo; pensando em que pai cantaria essa canção para uma criança, quando ela descobriu o que dizia na música, aos nove anos de idade, saiu correndo para sua mãe, chorando e dizendo que seu pai não gostava dela. Apenas dez anos mais tarde foi entender, a única música dos Beatles que tinha seu nome, ela, bebezinha só dormia escutando essa música e então seu pai começou a cantá-la. Chorou até seu peito doer, até não ter mais água nenhuma no corpo, chorou o resto de tarde, chorou a vida inteira. Novamente, chorou até adormecer, sonhou com eles, eles estavam ali com ela, ao seu lado sempre. Ela sabia disso.
Após alguns minutos sentada olhando a paisagem e apenas escutando sem julgar levantou-se e apanhou um copo de whisky. Quando ela terminou sua bebida já havia anoitecido, ela então fechou a janela e fez o que tinha que fazer: organizar o álbum de fotografias.
Sentou-se no chão, em frente à estante e de costas para a janela e apanhou as fotos. Por um minuto hesitou em continuar, fazia apenas um mês.
Talvez a vontade repentina de escutar Beatles se devesse ao fato de seu pai sempre ter sido fã. Quem sabe isso a faria sentí-los ali com ela naquele momento tão difícil.
Levantou-se uma última vez para apanhar, dessa vez, a garrafa toda de Jack Daniel's que estava próxima dela, em cima da mesinha de centro. Voltou para o lugar onde estava sentada e começou a remexer nas fotos. À medida que ia organizando ia chorando e claro, bebendo.
Ou ela chorou tanto ou ela bebeu tanto que adormeceu no tapete da sala, ao lado das fotos e ao som do John Lennon.
Abriu os olhos e percebeu onde estava, sentou-se com dificuldade e apenas observou as fotos, eram momentos eternizados de seus pais, ali ela poderia olhar para eles quando quizesse, quando a saudade apertar o coração.
Novamente quis terminar o trabalho e ficou horas a organizar as fotos, parando apenas para comer e tomar água, bastante água. Escolheu a melhor foto com a intenção de colocá-la em um porta-retratos ao lado da discografia dos Beatles.
Ela lembrava direitinho como havia sido tirada a foto. Ela ainda era criança e estavam no zoológico, a intenção da foto era que aparecesse o hipopótamo mas eles o taparam, mais especificadamente ela havia tapado o hipopótamo. Naquele dia eles tiraram fotos de todos os animais afim de fazer um único álbum dedicado à viagem, ela tinha seis anos.
Quando as fotos foram reveladas ela chorou durante uma semana, culpada que havia tapado o animal na foto. Tolice, coisa de criança, naquela época a foto era importante, a viagem havia sido importante. Ela sorriu com lágrimas no olhar.
Buscou o porta-retratos e pôs a foto no lugar escolhido. Admirou-a por alguns instantes, acendeu um cigarro e voltou à varanda quieta. Roeu as unhas como quando era garotinha. Ficou ali até o fim da tarde, mesmo querendo ficar por todo resto da vida. Cantou alto e desafinada, com voz de choro o refrão que seu pai costumava cantarolar para ela como canção de ninar: 'Anna you come and ask me girl to set you free girl / You say he loves you more than me so I will set you free'. Cantou chorando e rindo; pensando em que pai cantaria essa canção para uma criança, quando ela descobriu o que dizia na música, aos nove anos de idade, saiu correndo para sua mãe, chorando e dizendo que seu pai não gostava dela. Apenas dez anos mais tarde foi entender, a única música dos Beatles que tinha seu nome, ela, bebezinha só dormia escutando essa música e então seu pai começou a cantá-la. Chorou até seu peito doer, até não ter mais água nenhuma no corpo, chorou o resto de tarde, chorou a vida inteira. Novamente, chorou até adormecer, sonhou com eles, eles estavam ali com ela, ao seu lado sempre. Ela sabia disso.
- Desde sempre para sempre meu amor, agora boa noite. - sempre dizia seu pai.
'Little darling, it feels like years since it's been here
Here comes the sun, here comes the sun
and I say it's all right '
Here comes the sun - The Beatles
Here comes the sun, here comes the sun
and I say it's all right '
Here comes the sun - The Beatles
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