9 de dez. de 2011

Jerônimo Coelho

“Tu já não é mais aquela menininha que adormecia nos meus braços, em Porto Alegre. Era tão simples naquela época, eu simplesmente te pedia (e pro teu pai) para viajar e tu já falavas que tinhas comprado a passagem. Me ligavas no meio da noite dizendo que estavas cansada e eu nunca conseguia te fazer voltar a dormir. Parecia impossível virar as costas para a felicidade quando ela batia a minha porta.
Procurei sempre pensar em ti como a minha irmã mais nova e esse pensamento me poupou muitas fantasias porque sim, tu eras provocante mas tu também eras menor de idade. Procurava te manter por perto por causa da minha possessividade, que eu aprendi contigo, mas a vida foi ficando mais corrida e assim como eu, tu conheceu pessoas.
Devo te dizer que nunca conheci outra guria que falasse tanto quanto tu e também não conheci outra guria que me fizesse tão bem quanto tu, sem ser a Dona do meu Coração. De repente eu já não estava mais preocupado com o vinho derrubado no carpete, porque eu estava dançando na sala, contigo. Sempre regados a boa música, boa bebida e bons cigarros. Que saudade eu tenho dos cigarros, te prometi e nunca mais acendi um.

Também percebi que agora tu és um capítulo da minha biografia, um capítulo escondido entre os LPs do The Doors porque só o meu biógrafo vai ficar sabendo de ti. Desde que me mudei pra Porto decidi por te guardar só pra mim, ser a minha parte que ficou em Rio Grande porque tu sabes que são poucas as coisas que eu gosto de ficar lembrando. Este capítulo será o mais difícil afinal perdi quem me deu a vida mas espero contar com a tua ajuda para escrevê-lo, minha amiga, assim como contei contigo nos dias intermináveis dentro do hospital e naquela madrugada gelada de verão dentro das capelas.

'Amanhã vamos pra praia, olhar o mar sentados nas dunas, esperando o pôr-do-sol. Vai ser o nosso alívio momentâneo.'

Outro dia encontrei o teu desenho do golfinho, aquele que tu fez na 7º série e que ficasse muito empolgada e me desse. Emoldurei e pendurei no meu quarto mas o que eu mais gosto nele é a dedicatória que tem atrás. Lembro da tua empolgação me ligando no meio da aula de química só pra falar que tinhas feito o desenho mais bonito da tua vida e que querias dar para a pessoa mais feia da tua vida para que assim os dois se completassem. Gostaria de ter tido naquela época, metade da maturidade que tu tens hoje e quero que tu saibas que eu te admiro acima de tudo, pelo que tu fostes e pelo que te tornastes.
Espero conseguir chegar para o verão e te ver formanda, espero te abraçar e pegar no teu pé, como o irmão mais velho que tu sempre quis. Agora eu voltei para ficar."

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