16 de ago. de 2010

sobre as coisas que não vemos diariamente

- porque tão pensativa?
- ah, oi...
ela estava na janela de casa, apenas observando os carros e as pessoas seguirem seus caminhos. hoje, incrivelmente ela havia voltado para casa antes de anoitecer e pôde perceber que lá pelas 18, 19 horas o mundo todo voltava para casa.

- não vais me responder?
- desculpa. não estou pensativa, só estou observando.
- é, sei. mas me conta, porque voltastes pra casa cedo?
- tinha horas extras, decidi voltar pra casa. tenho muita coisa a fazer.
- e no entanto permaneces aqui, olhando as pessoas desconhecidas sem fazer absolutamente nada. que bom ein.
- não desdenhes, eu precisava exatamente disso, era isso que eu tinha a fazer.
- mas agora não te entendi, não fazer nada era o que tu tanto tinhas pra fazer?
- é, olhar as pessoas, ver a responsabilidade no rosto delas, admirar desde os mais estressados com o trânsito até os que se divertem em seus carros... olhar os pedestres apressados que cruzam a rua sem esperar o semáforo fechar... essas coisas que ninguém percebe.

ele permaneceu quieto, apenas olhando para ela. ela no entanto, não havia olhado para ele em nenhum momento da conversa, sua voz a irritava. ela sabia que teria de fazer muitas coisas ainda, era cedo e um artigo a esperava madrugada a dentro, assim como o Dylan já que ele estava aparecendo cada vez mais seguido e permanecendo mais tempo.

- eu te subestimei.
- porque?
- eu achava que tu era muito superficial, sabia?
- nunca duvidei disso.
- sobre o que se trata o teu artigo?
- é uma extensão do meu trabalho.
- huum.

houve uma longa pausa onde, pela primeira vez, foi ela quem iniciou a conversa:

- o que vamos comer hoje?
- pede uma pizza!
- que sabor tu gostas?
- eu não posso comer pizza.
- não?! então porque me sugeriste a pizza?
- sei lá, tu deve gostar de pizza... não tem ninguém que não goste.
- ta mas, tu existe?
- existo... tanto quanto um urso polar falante magro e dançarino bípede. não acredito que tu esqueceu que eu só existo na tua imaginação?

ela havia ficado sem jeito e em silêncio.

- então eu estou falando sozinha todo esse tempo?
- é.

ela olhou para frente. parou, pensou. voltou a olhar para ele a procura de palavras para a próxima conversa, quem sabe ela se justificasse com o porque de ela não ter levado ele para Porto Alegre mas ele já não estava mais lá. agora sim ela se estava sozinha. levantou foi até o telefone pedir uma pizza.

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