Saí da dentista e me encaminhei pra parada de ônibus mais próxima. Esperei um tempo razoável e entrei em um dos vários ônibus que me levariam pra casa. A linha já é conhecida, FURG - Vila Maria, ou seja, leva a Universidade Federal do Rio Grande campus Carreiros.
Em seguida que entrei no ônibus me arrependi: consideravelmente apinhado. Sem conseguir chegar nem ao menos ao meio do veículo, fiquei em pé perto da roleta, tentando olhar pelo lado positivo, afinal o ônibus das 07:20 da manhã que eu pegava todo dia - aaah, a greve - é pior e o caminho maior, então vai dar tudo certo.
Em uma parte do caminho, as paradas ficam realmente grudadas, com mais ou menos uma quadra de diferença; fato que sempre me foi muito curioso.
Eis que então um senhor com seus 60 anos, sentado próximo a mim, se levanta e dá sinal. Inicia sua jornada rumo ao final do ônibus, de forma que o perdi de vista.
Enquanto isso, cá com meus botões não compreendi porque o cobrador não sugeriu ao senhor descer pela porta de deficientes, que era bem mais próxima, poupando o senhor do difícil caminho apinhado de pessoas e sacolas. Notei então que uma mulher desceria na mesma parada, dando mais tempo para que o senhor chegasse à porta. Eu pelo menos, quando percebo que a outra pessoa está com dificuldade de chegar, ou uma paradinha esperta no degrau para que o motorista seja 'obrigado' a esperar.
Então o ônibus parou, a mulher desceu e rapidamente tentou seguir caminho e logo se ouviram gritos e protestos chamando atenção do cobrador, que avisou ao motorista que o senhor ainda não havia descido. Foi então que os dois trabalhadores agiram como se estivessem fazendo um favor ao senhor, abrindo novamente a porta.
Claro que o senhor nem ficou sabendo mas eu fiquei e infelizmente não estava de fones de ouvido e pude escutar todo protesto do cobrador, conversando com um amigo, em alto e sarcástico tom:
- É, eles ficam sentadinhos né, daí reclamam da gente ainda! Eles que gostam de ficar bem sentadinhos nos lugares e a gente é que tem que ficar cuidando! Não tenho visão ultra violeta (????????) pra olhar.
Só nesse trecho eu já me imaginava colocando o dedo na cara do sujeito e falando poucas e boas. Afinal de contas existe um jogo de espelhos para que ele justamente CUIDE se ainda descerão mais pessoas. Outra, era um idoso! Se eu, no alto dos meus 18 anos, bem fisicamente, tenho problemas para atravessar um ônibus lotado de pessoas e sacolas, que dirá um idoso que estava justamente descendo na parada do Hospital do Coração!
Educação, empatia e respeito com o próximo foram parar aonde? Creio que foram substituídos pela ignorância, incompetência e claro, pela visão ultra violeta.