28 de abr. de 2010

sente, escreva e não pense

essa história de sempre reclamar e se contradizer já me encheu o saco. veja bem, é só sentar e escrever. não é preciso nenhuma inspiração ou motivação criativa demais para que as coisas dêem certo, é só reclamar da vida, o que nós seres humanos pensantes fazemos muito. na verdade a intenção do blog era simplesmente ajudar a refletir mas eu ganhei leitores! incrivelmente eu ganhei leitores pensantes e isso é uma coisa que me deixa muito feliz. além de insegura. eu criei um compromisso para comigo mesma, criei um experimento que ganhou vida.

eu nunca contei isso a ninguém mas quando eu comecei ler Harry Potter (lá pelos 10 anos, tri piá) eu sonhava em ser escritora. queria transmitir a todo mundo algum significado, mesmo que fictício queria escrever bem e que me entendessem. com certeza não obtive muito sucesso, só manias. todos meus inícios de textos estão sempre centralizados, todos formatados corretamente, preciso de música para as coisas fluirem e janelinhas do msn piscantes me irritam profundamente porque eu sou obrigada a lê-las e muitas vezes interrompo momentos de pura criatividade e tempestade de idéias.

acho que é meio óbvio que não me tornarei uma escritora, muito menos de sucesso mas vejamos, eu tenho um blog. é quase que uma das metas de todas mulheres na vida inteira: plantar uma árvore, escrever um livro e ter um filho. eu tenho 16 anos então eu acho que comecei bem já embora não acredite muito nisso.

falando em ter filhos já que eu não serei escritora não faço a mínima idéia do que serei quando crescer. levando em consideração o fato de ano que vem vou prestar vestibular, o ato de crescer não se encontra tão longe assim, mas mesmo tendo plena consciência disso eu continuo sem saber que área atuar. escrever é hobbie, faço quando me aposentar ou tirar férias longas. gostei dessa coisa de blog. engenharias talvez, física ... não sei não sei.

o fato é: não existe fato. o mundo é governado por pessoas que, em sua maioria, não sabem se estão trabalhando na área em que gostam ou que são mais aptos, não gostam do que fazem e eu não quero ser assim. a outra pequena parte da população gosta porque descobriu em si uma vocação. é quase o que a minha vó diz: 'pra ser padre e médico tem que ter vocação'. claro que uma puta pitada de sorte têm que ser adicionada a esse pensamento porque pra mim não adianta apenas estar fazendo algo que tu goste, tem que ser bem feito e ser reconhecido pelo menos pelo chefe e com mais de 6 bilhões de pessoas no mundo fica meio (totalmente) complicado chamar um pouco da atenção para o teu trabalho.

eu já me perdi, não sei porque comecei simplesmente a digitar e deu no que deu. gostei disso, to de saco cheio disso tudo e chegasse a conclusão que tem que se estudar muito e trabalhar muito forte pra conseguir alguma coisa nessa vida.
até um dia qualquer que eu esteja menos.... desse jeito (:

26 de abr. de 2010

porque julgar se tu pode, julgar ?

Às vezes toda essa minha indiferença me assusta. Eu não tenho coragem de encarar todos os problemas da minha volta, eu apenas ignoro-os. Essa coisa aleatória que se tornou a minha vida de uns anos para cá está me cansando. Eu gostaria de ter feito tanta coisa diferente! Pra começar não seria mais a garota precoce e orgulhosa. Tentaria o máximo ser inocente até o limite e quem sabe fosse alguém completamente o oposto de mim. É, eu sinto nojo de mim mesma. Queria mudar tudo isso e talvez eu consiga um dia. Queria conseguir chegar e falar, espernear e gritar que eu sinto muito e não sei porque eu fiz tudo isso, está me matando aos poucos. Novamente acho que o orgulho não deixa. Eu já tentei explicar uma vez e acabou por ela rindo da minha cara e dizendo 'não justifica, não justifica' então tá, é por isso que eu não converso, é por isso que eu não me abro e acaba tudo dando no que deu. Eu sou madura sim, pra algumas coisas e se tu não sabe os meus motivos não aponta o dedo na cara, só porque tais mal comida não vem descontar em mim.


P.S.: Esse blog tá melhor do que meus 6 meses de terapia. Obrigada.

25 de abr. de 2010

tanto faz mesmo

agora a única solução que eu encontro é me afastar cada vez mais. há um tempinho atrás devido a alguns fatos eu decidi tentar me aproximar deles de uma forma que eu nunca me aproximei e tomei isso como meta, fazer algo diferente. não mais.
eu vejo que não tenho saúde emocional para permitir que eles me conheçam e que eu os conheça. é nóia demais pra mim e não posso e nem quero me envolver com isso ainda mais agora num momento tão tardio da minha vida. eu sei que esta não foi a primeira vez que eu tentei me aproximar (não digo reaproximar porque acho que nunca fui próxima deles, eu me lembro desde criança de me frustrar porque brigávamos todo dia).
as coisas foram só piorando entre nós e eu não faço a mínima questão de que eles confiem em mim. é, meus pais não confiam em mim agora cortarei meus pulsos. sério eu não conheço outro jeito de viver e eu tenho plena consciência de que as coisas seriam bem mais fáceis se o contrário ocorresse mas eu já me adaptei. eu confio em mim e mais ninguém. eu não tenho mais vergonha de passar vergonha, eu já adotei uma válvula de escape para todas as vezes que brigamos (o que andou diminuindo agora porque eu nem em casa fico mais, só durmo, mas que em alguns tempos passava de três por dia). eles não me afetam mais, são raras as vezes que sinto pena, são raras as vezes que fico com remorso de ter falado algumas coisas (não falo) ou ter feito.
as vezes eu invejo algumas famílias como a de uma amiga minha porque ela conta TUDO para a mãe dela e a mãe dela não julga, aceita na boa, critica o que tem que ser criticado mas no final acaba tudo sempre bem e aqui em casa não é nada disso. se eu tiver um filho um dia eu definitivamente não farei o que meus pais fizeram porque no final das contas quem se afastou deles foi eu mas eu me afastei porque eu quis. talvez eu me tornasse uma pessoa mais estável se tivesse sido criada como a minha amiga.
enquanto todos sonham em estar casados, ter vários filhos, criar os netos e rezam para morrer só após verem os bisnetos eu sonho em obter sucesso financeiro, ter a minha casa e alguns amigos legais. não me imagino vivendo após os 40. mesmo. o mais bizarro de tudo é que quando eu sonho com o meu futuro não incluo meus pais nele. parece que crescer pra mim é me livrar deles.
eu não acho que todo apoio que eles me dão, o que eles já passaram pra mim estar aonde eu estou é desmerecido, eu valorizo tudo isso que eles fizeram pra mim e sei que eles me amam mas eu simplesmente não quero que eles continuem a mandar em mim mesmo quando eu sair de casa (o que, pelo visto, será cedo).
de gente louca já basta eu. ou talvez só eu que seja a louca da família.
enquanto as minhas amigas contam fatos importantes pras mães delas eu só conto minhas notas. eu já tenho padronizado tudo o que falo pra ela, já sei o que falar, ou melhor não falar, quando ela briga comigo. é sempre assim: ela chega, fala fala fala eu olho pra ela com uma cara de 'ta, to te escutando mas quero que tu acabe logo', ela me pergunta um monte de coisa, eu não respondo ou enrolo, ela sai emputecida e eu volto as minhas atividades normais.

é triste mas é o que eu encaro. cansei dessa mesmice e cada vez mais fico feliz por ter milhões de coisas do cti para fazer. pelo menos assim não preciso falar com ninguém (leia-se ninguém da minha família).

22 de abr. de 2010

pura lascívia

Querido R.

não gostaria de ser eu a te dizer que tu fostes apenas mais um a passar pela minha cama. não foram muitos mas te digo que fostes o primeiro a passar apenas uma vez.
quando acordei já estavas na cozinha, puxando assunto e animado e eu não gostei disso. queria acordar contigo ainda do meu lado, dormindo. toda aquela energia me consumiu logo de manhã e me senti fraca a ponto de querer dormir de novo. eu não senti nada demais.
eu juro que queria ter sentido alguma coisa a mais quando minhas mãos involuntariamente percorriam teu corpo em uma madrugada gelada, mas eu não senti mais nada do que puro prazer e desejo. com certeza eu não estou aqui para me explicar ou para bolar uma desculpa qualquer para te deixar desanimado ou triste, estou aqui porque foi significantemente insignificante.
tudo o que havíamos conversado tinha me feito pensar que poderias te tornar alguém importante só que aí é que está o meu erro, eu sempre penso isso. foi um erro meu ter te dado corda o suficiente para te enforcares na minha cama e o pior de tudo é que eu não podia simplesmente jogar teu corpo na sarjeta quando me vi cansada de ti.
talvez esteja até supervalorizando uma noite apenas entretanto queria resposta às minhas perguntas e quem sabe tu poderia ser alguma delas?! por isso te escrevo essas tolas palavras tentando inutilmente entender e explicar o que aquilo foi exatamente e porque me deixou tão desolada ao invés de me contagiar.

me esqueça. por favor.

15 de abr. de 2010

me and my cigarettes, only





'E quando for voltar
Me diga quando vai chegar
E quando for partir
Esqueça de se despedir'
Por favor.

bom de longe.

existe uma coisa que todos deveriam ter: amor próprio. minha mãe vive falando isso e agora eu usarei a meu favor, terei o tal do amor próprio. todos sabemos que quando estamos com alguém (gostando dela ou não) há coisas que esta pessoa pede que julgamos burrice, idiotice ou simplesmente não gostamos e não concordamos. em uma relação madura conversa-se e aquela pessoa, para o bem da relação, busca não repetir os erros. poisé, esta última parte não esta acontecendo comigo. não adianta! fumo quantos Malboro puder, bebo desde Sol até Heineken e não adianta, nada vai mudar, tenho q tomar uma atitude.
hoje a tarde eu tomei essa decisão. eu já vinha pensando nisso a um tempo e não sei, vou fazer, ou melhor, não fazer. risos. eu to abrindo mão de pessoas que eu gosto e curto por causa dele e no entanto ele só ta fazendo coisas que beneficiam ele. como tu disse um dia: 'não abro mão de parceria por causa de mulher'. ok, eu também não mas não te trato mal por causa disso. não digo que tu é um merda na frente de todo mundo, mesmo achando isso em alguns momentos. paga de mais velho e maduro mas na real tu é pior do que tantas pessoas que tu critica e eu sei porque a gente não passa de dois meses, não concordamos nem no chocolate que dividimos.

14 de abr. de 2010

ah minha linda porto alegre *-*

eu gostaria de saber o que acontece quando nós não aturamos nós mesmos. eu queria que me dissessem o que eu faço agora já que não tenho ninguém e percebo que nunca tive, já que uma das únicas relações suficientes que eu tive também foram 'inventadas'.
eu minto, minto, minto... minto pra mim mesma e acredito tanto na mentira que até pra mim ela torna-se uma verdade. queria voltar pra porto naquele dia. ando pensando muito naquele dia. até demais. penso em que fim se deu aquele cara lindo e gentil que discutiu sobre Allan Kardec e Shakespeare comigo caminhando por entre as calçadas da Borges de Medeiros. foi uma noite maravilhosa, útil em sua presença.
agora ando querendo voltar pra porto mas para ver outras pessoas, pessoas que eu não conheço desta vez. quero conhecê-las. já faz tempo que eu não tenho que me virar sozinha. já faz tempo que eu não tenho preocupações na cabeça e que eu não penso na minha vida em Rio Grande.
tenho que dizer que se um dia eu puder te conhecer já bastaria por pelo menos uma semana. queria conversar, tomar uma Heineken novamente em um boteco de canto de rua em poa e fingir estar filosofando sem nenhuma pretenção.
cansei dessa história de estar sempre precisando ficar com alguém, cansei dessa futilidade de números (mesmo nunca tendo prestado muito atenção nisso), cansei de ter que pegar o mais bonitinho ou nao poder falar algo que eu quis. nunca dei bola pra isso e eu tenho certeza que seria esse meu aspecto que poderia te chamar atenção.
é só mais uma idéia que vai ficar por aqui. é só mais um desejo que eu transformei em palavra escrita mas poderia ter sentido. poderia.
nas férias de inverno eu quero ir num fest em porto, de preferencia que tu toques e que eu me misture ao bando de emos gaúchas histéricas tuas fãs. e quero ir com o senora. talvez o seco vá junto. se a mininha dele de fortaleza ou qualquer coisa do gênero deixar. piadinha.

já me perdi, mas isso não passa de alguns vários pensamentos sem cafeína (acabou de novo o café desta casa o que me faz pensar seriamente em me mudar ¬¬) que eu tento transformá-los em sonho após uma noite mal dormida e várias contas matemáticas não tão complexas assim.


'Ostenta ser feliz
Tudo que sempre quis
Mas melhor se cuidar
Com toda a tristeza que eu posso levar'

11 de abr. de 2010

00:00


'Quando vem o amanhã incerto
E a certeza me faz ver o inverso
Já não tenho o mesmo medo de me repetir
A verdade disso tudo é o que me faz seguir


Não vou mudar em vão
Pra que mentir
Se os dias vem e vão e não me vejo aqui'

O Amanhã - Detonautas

5 de abr. de 2010

há 16 anos atrás

Em 05/04/1994: Kurt Cobain, líder da banda Nirvana, comete suicídio no auge da fama com um tiro de espingarda na cabeça, sendo encontrado apenas cerca de dois dias depois.

Na segunda-feira, 4, Courtney pediu que a polícia verificasse a casa em Lake Washington. Os policiais passaram por lá várias vezes, mas não viram nenhum movimento. Naquele dia, à noite, Cali saiu de casa, deixando Jessica sozinha no quarto dele. Por volta da meia-noite, ela ouviu ruídos. "Ouvi passos no andar de cima e no corredor", lembra ela. Gritou um "oi" mas não ouviu resposta. Estima-se que era Kurt chegando naquele começo de madrugada.

Na quarta, 6, Jessica e Cali deixaram a casa dos Cobain, mas na tarde de quinta, 7, Courtney conseguiu falar com o casal e ordenou que procurasse por Kurt mais uma vez na casa do Lake Washington. Os dois foram até lá juntos com uma amiga, Bonnie Dillard. Não encontraram nada e deixaram um bilhete com um sermão para Kurt e mandando-o procurar por Courtney. Logo que foram embora, Dillard mencionou que talvez tivesse visto algo perto da garagem, mas, amedontrados, ninguém quis voltar para checar.


Dois dias antes, 5, nas horas que antecediam a alvorada de terça feira, Kurt Cobain havia despertado em sua cama. Os travesserios ainda tinham o cheiro do perfume de Courtney. No quarto, o aroma misturou-se com o cheiro ligeiramente picante da heroína cozida - este também era um cheiro que o despertava.

Kurt havia dormido com suas roupas do corpo. Vestia sua camiseta da banda Half Japanese e suas calças Levi's favoritas. Vestiu e amarrou os cadarços do par de tênis Converse que possuia, caminhou até o aparelho de som e colocou para tocar um disco do R.E.M., "Automatic for the People". Acendeu um Camel Light e caiu de costas na cama com um bloco tamanho ofício apoiado em seu peito e uma caneta vermelha de ponta fina. Ele já havia escrito uma longa carta pessoal à sua esposa e filha, rapidamente rabiscada, enquanto estava no Exodus. Ele havia trazido o papel até Seattle e havia enfiado sob um dos travesseiros impregnados de perfume. "Você sabe, eu amo você. Eu amo Frances. Eu sinto muitíssimo. Por favor, não venha atrás de mim. Eu sinto muito, muito, muito.", eram algumas das palavras que Kurt havia escrito, enchendo uma página inteira com esse pedido de perdão. "Eu estarei lá", continuou ele. "Eu protegerei você. Não sei para onde estou indo. Simplesmente não posso ficar mais aqui."

Tinha sido muito difícil escrever aquele bilhete, mas ele sabia que esta segunda carta seria igualmente importante e ele precisaria ter cuidado com as palavras. Ele endereçava "Para Boddah", o nome de seu amigo de infância imaginário. Quando soltou a caneta, havia enchido a página inteira, exceto por cinco centímetros. Ele fumara três cigarros redigindo o bilhete. As palavras não tinham saído com facilidade e havia erros de grafia e sentenças pela metade. Ele assinou dizendo "paz, amor e empatia. Kurt Cobain". Escreveu ainda mais uma linha - "Frances e Courtney, eu estarei em seu altar" - e enfiou o papel e a caneta no bolso esquerdo do casaco.

Ele se levantou da cama e entrou no closet, onde retirou uma tábua da parede. Neste cubículo secreto havia uma arma dentro de uma capa de náilon bege, uma caixa de cartuchos de espingarda e uma caixa de charutos Tom Moore. Ele repôs a tábua, enfiou os cartuchos no bolso, agarrou a caixa de charutos e aninhou a pesada espingarda sobre seu antebraço esquerdo. Em um closet do corredor, ele apanhou duas toalhas - ele não precisava delas, mas sabia que alguém precisaria. Desceu silenciosamente os dezenove degraus da larga escadaria. Estava a cerca de um metro do quarto de Cali e não queria que ninguém o visse. Ele havia refletido sobre tudo isso, traçado um mapa com a mesma premeditação que dedicava às capas de seus discos e a seus vídeos. Haveria sangue, muito sangue, e uma bagunça que ele não queria em casa. Principalmente, ele não queria assombrar aquele lar, deixar sua filha com o tipo de pesadelos com que ele havia sofrido.

Quando se dirigia para a cozinha, passou pela soleira da porta onde ele e Courtney haviam começado a acompanhar o quanto Frances havia crescido. Apenas uma linha estava ali agora, uma pequena marca de lápis com o nome dela a cerca de 79 centímetros acima do chão. Kurt nunca mais veria outra marcas mais altas naquela parede, mas estava convencido de que a vida de sua filha seria melhor sem ele.

Na cozinha, ele abriu a porta de sua geladeira Traulson de aço inox de 10 mil dólares e apanhou uma lata de cerveja de raizes da Barq, tomando cuidado para não soltar a espingarda. Levando essa carga macabra - cerveja de raízes, toalhas, uma caixa de heroína e uma espingarda, tudo o que mais tarde seria encontrando num arranjo de plantas bizarro -, ele abriu a porta para o quintal e atravessou o pequeno pátio. A aurora estava rompendo e a neblina pairava próximo do chão. A maioria das manhãs em Aberdeen eram exatamente assim: nevoentas, orvalhadas, úmidas. Ele jamais veria Aberdeen novamente; jamais escalaria efetivamente até o topo da caixa d'água no "Morro do Think of Me"; jamais compraria a fazenda que sonhava em Grays Harbor; jamais acordaria novamente numa sala de espera de hospital tendo fingido ser um visitante para só encontrar um lugar quente para dormir; jamais veria novamente sua mãe, irmã, pai, mulher ou filha. Ele trilhou os cerca de vinte passos até a estufa, galgou os degraus de madeira e abriu o conjunto de portas francesas dos fundos. O piso era de linóleo: seria fácil de limpar.

Ele sentou-se no chão da estrutura de cômodo único, olhando para as portas da frente. Ninguém conseguiria vê-lo ali, a menos que estivesse trepado nas árvores atrás de sua propriedade, e isto não era provável. Não queria mais ver o interior de um hospital novamente, não queria um médico de jaleco branco apalpando-o, não queria ter um endoscópio em seu estômago dolorido. Ele estava acabado para aquilo tudo, acabado para o seu estômago, ele não poderia estar mais acabado. Como um grande diretor de filmes, ele havia planejado este momento até os mínimos detalhes, ensaiando esta cena ao mesmo tempo como diretor e como ator. No curso dos anos, tinha havido muitos ensaios finais, passagens de raspão que quase seguiam este caminho, fosse por acidente ou, às vezes, por querer, como em Roma. Talvez fora sempre isto que ele guardava vagamente em sua cabeça, como um ungüento precioso, como a única cura para uma dor que jamais passaria. Ele não se importava com a liberação do desejo, ele desejava a libertação da dor.

Ficou sentado pensando coisas que só ele sabia por vários minutos. Fumou cinco Camel Light e sorveu vários goles de sua cerveja. Tirou o bilhete do bolso, estendeu-o no chão do linóleo e tinha de escrever em letras maiores, que não saíram tão perfeitas, por causa da superfície que ele estava: "Por favor, vá em frente, Courtney, por Frances, pela vida dela que será muito mais feliz sem mim. Eu te amo. Eu te amo". Essas últimas palavras haviam completado a folha. Depositou o bilhete no alto de um monte de terra para vasos e fincou a caneta no meio, para que, como uma estaca, segurasse o papel no alto, sobre a terra.

Tirou a espingarda da capa de náilon macia. Dobrou cuidadosamente a capa, como um garotinho separando suas melhores roupas de domingo depois da missa. Tirou a jaqueta, estendeu-a sobre a capa e colocou as duas toalhas no alto desse monte. Ele foi até a pia e apanhou uma pequena quantidade de água para o seu fogareiro de droga e sentou-se novamente. Abriu a caixa com 25 cartuchos de espingarda e tirou três, enfiando-os na câmara da arma. Moveu o mecanismo da Remington para qu e um único cartucho estivesse na câmara. Retirou a trava de segurança da arma.

Fumou seu último Camel Light. Tomou mais um gole da Barq. Lá fora, estava começando um dia nublado - era um dia como aquele em que ele chegara a este mundo, 27 anos, um mês e dezesseis dias antes. Ele agarrou a caixa de charutos e tirou um pequeno saco plástico que continha cem dólares de heroína preta mexicana - era um bocado de heroína. Ele pegou cerca de metade, um chumaço do tamanho de uma borracha de lápis e o colocou na colher. Sistemática e habilmente, preparou a heroína e a seringa, injetando-a logo acima do cotovelo, não muito longe de seu "K" tatuado. Devolveu os instrumentos para a caixa e se sentiu uma nuvem, rapidamente flutuando para longe deste lugar. O jainismo pregava que havia trinta céus e sete infernos, todos dispostos em camadas ao longo de nossas vidas; se ele tivesse sorte, este seria seu sétimo e último inferno. Afastou para o lado seus instrumentos, flutuando cada vez mais rápido, sentindo sua respiração se reduzir. Ele tinha de se apressar agora: tudo estava se tornando nebuloso e um matiz verde-água enquadrava cada objeto. Agarrou a pesada espingarda, encostou o cano contra o céu de sua boca. Faria barulho; ele tinha certeza disso. Disparou. E então ele se foi.

O corpo de Kurt Cobain foi encontrado pelo eletricista Gary Smith, que chegou à casa do Lake Washington para instalar um novo sistema de segurança. Às 8:40h da sexta-feira, 8, Smith estava perto da estufa e olhou para dentro dela. "Eu vi um corpo estendido lá no chão. Pensei que fosse um manequim. Depois notei que havia sangue na orelha direita. Vi uma espingarda estendida ao longo de seu peito, apontando para seu queixo", relatou Gary. Ele ligou para a polícia e, em seguida, para sua empresa.

Biografia: Wikipedia

Fonte: Whiplash.net


'She eyes me like a pisces when I am weak

I've been locked inside your heart-shaped box for week

I've been drawn into your magnet tar pit trap

I wish I could eat your cancer when you turn black'

Heart-Shaped Box - Nirvana


4 de abr. de 2010

22:22

alguém que se permite mudar, moldar-se, adquirir o máximo de conhecimento que sua ínfima cabecinha puder colher. uma garota que vai de gargalhadas escandalozíssimas a risos molhados, aqueles que segundo a minha avó nem deveriam nomear-se sorrisos pois não mostram os dentes. uma daquelas garotas que mostram personalidade forte no primeiro momento, fingem ser duronas e independentes mas se amolecem na primeira oportunidade e tentam, secretamente, agradar a todos.
quando digo que sou tímida ninguém acredita mas o jeito 'estou nem aí' ou 'já saio brincando com todo mundo' foi o jeito de não tornar-me solitária. surpreendo até minha mãe, surpreendo aquela pessoa que está comigo sempre e que pensa me conhecer muito bem, seja com um gosto diferente, uma paixão por clipes, comerciais, canecas... há alguns clipes que eu amo de paixão e que ninguém nem sonha como Sunday Morning do Marron 5 e The Reason do Hoobastank, assim como tantos outros. ninguém sabe que a música que eu mais gosto do Nirvana é Drain You e que o clipe é In Bloom, ninguém lembra da minha adoração, do meu orgulho pelo fato de ter nascido gaúcha. ninguém sabe dos meus planos de morar na serra ou passar um tempo no Alegrete. ninguém sabe da minha paixão pela Itália. ninguém sabe da minha admiração pelo Adam Levine apenas porque ele fez aquele passinho do momento 4:15 de Sunday Morning e nem que eu só comecei a gostar de rock por causa de B.Y.O.B. do System Of A Down. não sabem dos trechos que eu mais gosto das canções mais nada a ver possíveis. não sabem que eu espero apaixonar-me por alguém para pô-las de frase ou mandá-las para alguém.
ninguém sabe realmente o que eu sinto a não ser que eu transpareça. eu desenvolvi esse mecanismo de fuga, a mentira. sou uma excelente mentirosa, pena que não tenha mais controle sobre a minha mentira. minto por esporte. ninguém sabe que até eu mesma duvido da minha sanidade mental. ninguém sabe que eu já tive início de depressão.
geralmente ninguém percebe quando eu quero estar quieta e sempre acham que seja pelos motivos errados. foras e caras que não me olham ou me olham demais são os menores dos meus problemas. pensar em não conseguir o que eu quero, isso sim me deixa quieta e pensante. ninguém sabe que eu me cobro demais, que eu morro de medo de errar na frente de todos e que eu entro em pânico por falar em público. pânico mesmo, não falo.

mais ainda, ninguém sabe que eu inventei um personagem no dia em que recebi a notícia de que meu avô havia morrido, ninguém nunca soube o quanto isso me modificou e me afetou. não sou nem um terço do que represento.