16 de ago. de 2011

Highway 61 Revisited

- Sabe, se eu pudesse moraria num banheiro gigante. – mesmo sem querer pensei alto. Pra variar estava sozinha, eu e a música.
- Sério?
- Não, claro. Mas a minha casa teria um banheiro grande. Sempre fui fissurada por eles, assim como boxes grandes. Coisa horrível tomar banho em um lugar apertado. Passamos grande parte das nossas vidas em lugares apertados, o banho tem que ser um lugar de libertações, organização de pensamentos, idéias mirabolantes, precisa-se de espaço.
- E tu perdes tempo pensando nisso tudo? – certamente ele caçoava de mim, senti até o tom da sua voz mudando. A voz rouca e irritante havia mudado. Mais irritante ainda, mesmo sem me irritar.
- Claro.

Procurei me envolver em alguma atividade, havia esquecido o que estava fazendo antes de ser interrompida. Minha cabeça doía demais e nada me irritava mais que isso. Sorte dele. Até estava gostando de compartilhar essas idéias com ele, aliás, com qualquer um. Eram detalhes que eu achava que só eu percebia, precisava comentar com alguém pra ver se eu era tão louca quanto achava que era. Pelo visto estava certa.

- O que mais tu tens feito? – alguma tentativa de conversa surgiu por parte dele, Dylan estava realmente inquieto. Provavelmente também estaria se estivesse estado tanto tempo sem aparecer.
- Pensado em ti. Lido sobre ti. Ainda não terminei o livro, por outras razões, mas principalmente porque quero absorver tudo. Guardo cada grande sacada do autor, anoto e quando eu vejo tenho inúmeras idéias borbulhando na minha cabeça. Além de ter cada vez menos tempo pra ler.
- Burrice na minha opinião. Todos nós temos tempo pra quase tudo, só escolhemos usá-lo para coisas diferentes. É tudo questão de prioridade.

Sorri. Sempre falo isso e agora escuto sair da boca do Dylan. Demorou mas comecei a gostar dele. Senti sua falta. Senti falta de escrever.

- Mas então porque não escrevesse? Tu mesma acabaste de falar que tinhas idéias! – ele me perguntou. Estava começando a se tornar irritante, novamente.
- Porque não me sentia confiante.
- E agora te sentes?
- Não, mas agora deu vontade. Vontade maior do que prestar atenção em alguns erros que cometi até agora. Assim como não estou mais ligando com a tua opinião. Parecia que eu iria explodir se não escrevesse todas as palavras que estavam se formando na minha mente. Enlouquecedor.

Seu rosto mal iluminado pelo poste me permitia observar sua sobrancelha arqueada. Tentei em vão explicar-me. Nem eu sabia por que não havia mais escrito sobre ele, quem sabe eu estivesse tentando fugir.

- É tudo questão de lembranças. Elas vêm à tona sempre. Por isso não concluí a leitura do livro ainda. Sempre quis escrever uma obra de arte quando acabasse o livro e sei que não conseguirei. Pelo menos ainda não. Nunca é o momento para escrever. Não sei quando o será ou se existirá um momento apropriado.
- Deixa de ser ridícula é sempre momento de escrever. Até quando se está em um banheiro...
- ...escovando o dente. Foi assim que tu surgiste, hoje pelo menos.
- Eu sei que tu já pensaste em mim em vários momentos e sei que já desistisses de me colocar no papel. Tudo bem não ligares pra minha opinião, não sou mais o personagem principal. Só tens que saber que se tu não sentar na frente do computador ou do papel em branco e só deixar fluir, nada funciona. É um mecanismo de ação e reação, tu sabes.
- O Newton.
- É.

Prometi escrever mais e concluir a tal da obra-prima que ainda está no meu computador, sem final aparente. Assim como tudo na minha vida agora. São projetos que necessitam de total concentração e claro, tempo dedicado. O problema é achar tempo pra tudo isso, nem se o dia tivesse 40 horas daria pra fazer tudo. São tentativas e acertos. Letras de músicas que obedecem a seu propósito como músicas, mas não como parte integrante de álbuns. Não contam mais histórias como outrora, apenas a assoviam. Esperam que o ouvinte a cante, a tome como sua para que esta finalmente possa se tornar completa.
Como decidir o que entra em uma compilação de 12 músicas e o que fica de fora? Uma perspectiva é muito pouco.

- Se arrisca. Só se saberá se dará certo se nós o fizermos. Compila.

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