26 de mai. de 2011

histórias de hospital

quando estamos ali naquela sala de espera, todos apreensivos, com bebezinhos pequenininhos em seus colos, quietos ou com crianças espoletas eu fico pensando qual será o problema com eles. quando estou ali parece que estou indo para o pediatra e de fato estou mas este é um pediatra de corações de fetos. um dos 5 homens principais do meu coração.
aqueles pais inquietos, com vontade de chorar mas não o fazem pelos outros e pelas suas próprias crias. tento lançar olhares de conforto, tentar transmitir com o olhar que eu estou aqui e que o teu filho também terá seus 17 anos.

nessa última vez um gurizinho me fez lembrar de mim, ele não parava, cantava gritando, se dependurava na mãe e a mãe, paciente, aproveitando seu momento com o filho, conversava com ele e deixava ele fazer o que bem entendesse. já o pai estava do meu lado, com um rosto fechado de braços cruzados apenas olhando e esperando. de vez em quando controlava seu filho que já gritava a plenos pulmões em um hospital.
o gurizinho perguntou para a mãe quando que o Tio Raul o atenderia, ela antes de responder me lançou um olhar e sorriu. ele puxou o braço da mãe e ela voltou sua atenção a ele antes que eu pudesse sorrir-lhe de volta. quando escutei o meu nome me levantei e já estava indo rápido até a sala que ele estava atendendo e me lembrei de passar por ela e lhe responder o sorriso.
agora ela sabia que eu que tinha problemas (tive, mas disso ela não sabe) e que tudo vai ficar bem com o filho dela. ela olhou para o marido e sorriu como quem diz que está confiante. antes de entrar na sala dei uma olhada para ver qual seria o diálogo mas não consegui ver.

tudo estava bem comigo, saímos rindo da sala, olhei para o lado e vi um homem muito mais calmo levantando da cadeira, muito mais amoroso, pegou seu filho no colo e foi em direção à tão temida salinha. não sei qual era o problema daquele gurizinho-sirene mas eu sei que quando as pessoas que estão na tua volta acreditam que tudo vai se resolver, já é meio caminho andado para uma boa recuperação.

a minha mãe sempre me diz que eu era igual aquele guri, não parava quieta um minuto e falava pelos cotovelos. no ônibus voltando de Porto Alegre ela me comentou que aquele casal do gurizinho barulhento tocou outro casal, o do gurizinho quieto. estavam todos quietos e apreensivos, não eram dali de Porto, pareciam ser do interior, de algum lugar com colonização alemã. eles, que estavam cada um na sua, passaram a se abraçar e beijar de uma maneira contida mas que simbolizava proteção.


falando de mim agora, fiquei feliz que quando eu cheguei tinha apenas um cara, alto com uns 20 e muitos anos pra mais e que entrou nessa mesma salinha para conversar com o Tio Raul. embora eu já saiba que está tudo bem comigo, gosto de pensar que ele teve esse acompanhamento e que já chega aos 30.
ali, naquela sala de espera, a esperança de um se torna a esperança de todos e não importa se o teu problema já foi resolvido, tu torces para que o de todos ali também o seja.

Nenhum comentário:

Postar um comentário