Saí do auditório pronta para tomar um banho de chuva e pouco me importando se chegaria em casa um pinto molhado. Até pensava que compraria material escolar novo (viva a greve e as papelarias vazias). Vi que a mãe tinha mandado mensagem e meio distraída atravessei a rua do campus e me abriguei na parada de ônibus. Ventava muito e respingava, dia típico de inverno. Esboçava um sorriso enquanto digitava com dificuldade. A mensagem não foi enviada porque aparentemente eu falo demais ao celular, então liguei a cobrar. Foi quando percebi que a guria do meu lado chorava de soluçar.
Olhei pra ela porque sabia o que ela estava sentindo. Há um mês atrás eu saí daquele mesmo auditório enxugando as lágrimas que, teimosas, caíam. Pensei em tentar consolá-la mas não saberia o que responder se ela teimasse que o ano dela estava 'perdido'. Achei que ela acharia muito estranho.
Esperei alguns minutos, pensando no que fazer e com o número da mãe ali, pronto para ser discado. Pensei na vez que liguei pra mãe dando a notícia de que haviam chamado 4 pessoas e eu era a 5º. Pensei na baita 'injustiça' que era, eu ali agora contando que já tinha sido matriculada e a guria querendo uma matrícula. Vai saber se ela queria medicina? Vai saber se ela já tinha sido reprovada em outras universidades? Será que ela estudou mesmo? Senão não estaria chorando de soluçar!
Me contentei em sair do abrigo e contar para a mãe o mais longe possível. Na hora que todos teus sonhos foram aparentemente destruídos, tu só queres chorar mesmo. Aquela era a hora dela de achar que tudo estava dando errado e que o mundo era uma droga. Deixa ela chorar em paz.
Só queria dizer que no fim, as coisas podem sempre dar certo, como deram pra mim.
Tomara que chamem ela. Nem que seja em maio.
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