Comecei a perceber as minhas loucuras e regras próprias quando me ‘nasceu’ uma bolota doída embaixo do ouvido. No 1º dia não dei bola, no 2º dia doeu, no 3º dia sonhei que esse era o sintoma de uma doença terminal e assim, fui ao médico. Não é nada demais, só uma inflamação e nada que um maravilhoso anti-inflamatório não resolva.
Enquanto eu e a minha mãe esperávamos no saguão do Centro Clínico, me apavorei com a quantidade de pessoas que estavam lá. É claro que não sou alienada, sei da situação de sucateamento que o sistema de saúde enfrenta e que a situação piora durante o inverno, cheio de gripes, rinites e outras coisas ranhentas e nojentas. Mesmo assim, eu juro que não esperava ver aquele saguão enorme lotado simplesmente porque até então nunca tinha visto. Me consulto lá desde os 6 anos e em 12 anos eu nunca tinha visto lotado.
Eu, que saio de uma gripe ralada de, no mínimo 2 semanas de podridão, não quero adquirí-la novamente. Tenho evitado contato com outras pessoas doentes, não abro mão da manta, não pego friage e tomo a minha vitamina C diariamente. Sempre tentei me manter afastada dos germes e só agora me dei conta que, sempre que manipulo dinheiro ou ando de ônibus, me recuso a fazer qualquer coisa com as mãos até que as lave corretamente. Sempre que chego em casa, troco de roupa e quase não entro no meu quarto com os sapatos da rua. Não sou tão neurótica assim, afinal tomo chimarrão (mas inventei a minha própria regra que é não derrubar o morrinho até que a primeira térmica seja terminada), ocasionalmente lambo os dedos e esqueço de lavar e posso comer no mesmo prato que alguém, usando o mesmo talher e o mesmo copo (desde que seja de alguém amigo), entretanto não suporto que coma-se da panela ou, se comer, que coma-se toda a comida/doce.
Enfim, fui forçada a ficar no mesmo saguão – não muito arejado - que outras 50 pessoas doentes e tossindo, meu lado hipocondríaco surgiu loucamente. Conseguia enxergar os germes saltando das tosses alheias e vindo parar no ar que eu respirava. Estava certa que todos tipos de gripe haviam sido introduzidos no meu organismo.
Pra piorar, tinha um médico – muito simpático – que APERTAVA a mão dos pacientes. Ou seja, a criatura vinha consultar, tossia e espirrava na mão, não lavava, apertava a mão do médico. Depois da consulta ele seguia a lista de nomes, chamava o próximo, apertava a mão do mesmo, dando lhe os germes dele e do paciente anterior e assim ia. Um ciclo vicioso e perigoso de germes e mais germes. Nas minhas fantasias, nem um banho de álcool gel deixava o médico limpo.
Com toda a minha sorte e ironia do destino, foi ele que me atendeu e por causa do seu sorriso tive que apertar a mão dele. Durante o aperto, visualizei nossas mãos e vi os germes tipo piolhos, pulando da mão dele pra minha e esperando que eu coçasse o nariz ou os olhos para que eles fossem bem vindos ao meu corpo, que passa por um delicado momento de recuperação.
Durante a consulta ele afirmou que está gripado. Eu, que fui ao médico por causa de uma bolota me vi forçada a quase contrair peste bubônica. Depois de todo esse "passeio" minha mãe ficou louca comigo e mandou eu ir me tratar.
Lição de hoje: Sou quase paranoica. Entretanto, sem apertos de mão, sem tossir nas mãos, sem bolotas embaixo do ouvido, meu lado hipocondríaco não suporta tudo isso. Mais uma situação que reforça a loucura e regras próprias que invento.
Lembrete: Não comentar mais minhas loucuras, senão me chamam de louca e dramática e eu fico delirando se realmente sou tão louca e tão dramática, o que me deixa mais louca e mais dramática. Com uma bolota embaixo do ouvido.
P.S.: Sei que a atitude do médico é louvável e muito humana, considero-o muito simpático e provavelmente é um ótimo médico que, mesmo gripado atende os pacientes da melhor forma possível. Eu que sou uma chata dramática que vejo germes em todos os cantos.