2 de jan. de 2015

da dificuldade de definir sentimentos

A verdade é que eu nunca me importei com o que os outros pensavam de mim. Essa atitude já foi um acerto e um erro. Me enxergo muito inocente. Não acredito que as pessoas sejam essencialmente más e que tenham intenções ruins. Eu sei que este lado existe, principalmente o vejo em mim, às vezes. O que não entendo é como esse lado domina ao longo do tempo.

A medida que vamos crescendo, encaramos situações que nos moldam. A escolha entre acreditar ou não nas pessoas, nos dirá se quebraremos a cara ou não. Eu, sempre escolho acreditar. Fui moldada sob essa perspectiva. Por escolher acreditar, necessito ajudar e causar reflexão no outro (e vice-versa). Sei que meus princípios não são os certos para todos, mas julgo ter sido criada por pessoas justas e amorosas e procuro no outro, alguém com quem se possa refletir nossos atos para corrigi-los. O que eu não aprendi é como não ser arrastada pela reflexão do outro. Penso que tenho melhorado um pouco, mas ainda estou longe do correto.

Acredito que o mal pode dominar por períodos e acredito que sozinhos, não vamos a lugar algum, apenas para baixo. Ninguém é uma ilha. Todos somos parte de uma rede e acabamos afetados pelas atitudes e pensamentos alheios e, por causa disso, desenvolvemos estratégias de convívio.
Saber se relacionar é uma arte, e aprendi isso da forma mais dolorida possível. Não sei como não guardei rancor e não sei como pude alimentar a parte ruim de mim por tantos anos. Resolvi amar todos e acreditar no bem em todos. Não quero ver apenas o lado ruim e mau. Escolho guardar boas lembranças e sentimentos sobre os que já entraram na minha vida. Sei que cada presença é passageira, uns por mais tempo e uns por menos. Acredito que todos contribuem em algum aspecto para a nossa evolução.

Por isso, sempre levei em consideração as ações e não as palavras. Principalmente, a razão psicológica para os atos. A verdade é que nem sempre sabemos como absorvemos internamente as coisas. Muitas vezes pensamos que temos determinada atitude devido a tal acontecimento importante que nos marcou mas, ao analisarmos, percebemos que a atitude é devido a outros tantos acontecimentos pequenos, mas insistentes. A gente nunca sabe o que efetivamente vai nos moldar, até que já repetimos o padrão tantas vezes que quebrá-lo se torna um exercício de contínuo foco. Foco. Palavra mais repetida pelo meu pai em toda sua vida, eu acho.

Eu, por ter acreditado nas pessoas, quebrei a cara e não soube me recuperar. Encarei o lado negativo da vida, me isolei e constatei que o meu fundo do poço – naquele momento – havia chegado. Não há lugar para ir, a não ser para cima. A grande questão é que o comportamento antigo já se consolidou. O que fazer? Procurar ajuda. Em si ou nos outros? Ambos. O antigo sempre buscará se sobrepujar ao novo e te puxará aos velhos hábitos, que morrem devagar. Mas morrem!

Seguir encarando a vida com olhos preto e branco era uma das coisas que me faziam mal. Fui descobrindo as cores e, aos poucos, acreditando mais nas pessoas. Fui puxada para o fundo do poço novamente. E sigo sendo. Mas a cada escalada, percebo que chego mais longe e fica cada vez mais difícil o ruim alcançar – embora eventualmente, ele chegará.

E aí que chegamos onde eu queria começar o texto! O ano de 2014. Me senti puxada para o meu buraco apenas duas vezes este ano. Penso que finalmente quebrei um ciclo, que eu julgo ser o principal motivador da autodestruição que eu tanto luto contra. E um ciclo extremamente importante. Colocar fim em uma montanha russa de alegrias e tristezas que durou oito anos inteiros significa muito. E talvez eu não tenha perdido a minha essência – acreditar – e tenha amadurecido um pouco quando se trata de saber deixar o problema de cada um com seu respectivo. Não se pode abraçar o mundo.

E então, cheguei a segunda vez que fui atirada no buraco. Esta, inesperada e sob muita luta. O que senti durante agosto/setembro foi desespero. Eu vi potencial, acreditei, me esforcei, lutei, amei e pra que? Concluí que, realmente não posso forçar a minha entrada onde não quero ser recebida. Não devo procurar ajudar quem não quer ser ajudado (inclusive a lição que eu achava que já tinha aprendido). Não posso contribuir e carregar fardos cujos donos não querem ser questionados pois acreditam que apenas seu jeito é o certo.

Aceitar foi a parte dolorosa. Perceber que havia entrado no meu modo autodestruidor a partir do momento em que me permitia continuar nutrindo esperanças de que o reslumbre de bom que havia visto ao longo dos atos, na verdade, era ofuscado sob pilhas de julgamento e opiniões solidificadas sem um mísero de questionamento, foi a minha ruína. Desistir significava que eu errara e não havia cumprido com o meu papel.

Aqui, acho desnecessário falar sobre o lado bom de nós. Ele foi grande para caber nessa pseudo retrospectiva-reflexão. Creio que o meu erro tenha sido justamente esse: avaliar com diferentes pesos os lados bom e ruim da relação, sempre considerando mais o lado bom.

Mesmo que para mim o fim tenha começado antes mesmo de termos terminado, demorei dois meses para perceber que eu deveria ter forças para lidar com o aprendizado escrachado nos meses anteriores, senão, tudo que havia sofrido anteriormente, teria sido inútil. E sob a lembrança do meu buraco anterior e já bem conhecido, engoli meus sentimentos bons e procurava expulsar os ruins e fazer com que eles se tornassem evidentes e insuportáveis. Não foi só ele quem concluiu que, de fato, somos muito diferentes. Mas eu também tive que concluir que não somos complementares.

O problema foi que, no caminho, lidei com emoções fortes. Tive sentimentos ruins sendo empurrados pelos poros em direção às trevas que se formavam ao meu redor, sentimentos que estavam guardados há muitos anos. Acabei acelerando o processo de autodestruição, que já vinha em curso. Gerei contradição (de ambas partes), lembrei de situações que dava por esquecidas e fiz coisas que julgo erradas. Percebi uma alimentação negativa, o julgamento dele se unia ao meu. Sabia que fazia errado mas não sabia outra forma de arrancar um sentimento tão forte que residia em mim, pronto para ser retribuído e então, pisado. Eu ouvia seu julgamento e me importava!

E foi assim que o outubro chegou. O que eu anteriormente havia levado anos para transformar em uma situação insustentável, consegui – e não me orgulho – transformar em aproximadamente um mês. E doeu tanto! Tinha nojo do que me tornei, e assim, aparentemente sem mais nem menos, eu dei fim. Ironicamente, o fiz com um beijo e sob extremo desejo. De repente, tudo que eu sentia não estava mais lá.

A medida que fui liberando meus pensamentos e culpas, resgatei um sentimento que eu ignorava. O que poderia ser bom, estava enterrado sob camadas e camadas de medos e incertezas. Acho importante esclarecer que, para retirar o máximo de sentimentos bons que eu carregava da pessoa que havia me entregado novamente o direito de ser feliz acompanhada, eu mudei e acredito que jamais serei a mesma. Eis que, aparentemente sem cerimônia e sem sofrimento, eu segui em frente. Aos trancos e barrancos.

O mais irônico de tudo é que eu não teria tomado atitude alguma se não fosse por ti, pelo teu jeito de não se deixar levar pelo sentimento. A verdade é que eu não teria esperado mais uma semana. Eu já não estava ali. Pelo menos não da forma como nós havíamos existido. Por alguns instantes virei um fantasma do que eu era e acabei nos transformando em fantasmas também. Por isso, te peço perdão. Ter sido forçada a atos tão drásticos me fez refletir e perceber o momento em que meu mecanismo de autodestruição é atiçado. Eu só tive boas intenções e atualmente, só desejo teu bem – seja ele qual for e sob qualquer tua atitude, mesmo que ocasionalmente eu vire apenas um número (5).

Eu não sei se aceitei o teu jeito de ser. Ainda é muito complicado. Mas eu respeito. Talvez sob tuas mesmas vivências eu também reagiria dessa forma ( e vice versa). O fato é: continuaria sem dar certo por mais tempo.

E então, sob tempestades e trovões, dei um passo que não teria como ser retirado. Eu tinha duas opções, continuar ou abandonar. Da forma como eu estava, provavelmente teria escolhido a segunda opção. Provavelmente teria caído na tua manipulação de me manter à volta, sendo tua e indo contra meu próprio julgamento. Mas porque existe um amigo merecedor envolvido, eu continuei. E agradeço todos os dias.

Encarei muitos momentos de dualidade e momentos onde o que queria era me isolar. Com sorte as provas e o foco me mantiveram fora do buraco. E assim, evitei grandes destruições. Neste momento, lutava contra o intuito natural de esquecer do meu próprio sofrimento e focar nos danos que minhas ações causavam, ou simplesmente aprender a me fortalecer, tentando unir os aprendizados novos à minha essência.

Levo de 2014 a certeza de que coloquei à minha frente inúmeras pessoas e sentimentos, alguns bons e alguns ruins. Ainda aprendo com todos. Fiz amigos, dei muitas risadas, sofri bastante. O importante foi só ter caído no buraco duas vezes. Os dois, valeram muito a pena. Inicio 2015 com a presença da família e com paz no coração. Vejo harmonia e fico maravilhada com a evolução dos sentimentos, afinal, para tudo deve haver o equilíbrio. Ainda devo aprender a lidar com o sentimento de impotência criado por ter desistido de ajudar uma pessoa querida, entretanto devo saber respeitar meu próprio limite. Aproveitei 2014 até as últimas forças.

E que venha 2015!

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