Hoje parece que eu sinto toda a dor do mundo.
Sinto a dor daquele cachorro atropelado na faixa, segunda-feira passada. Sinto a dor do gato morto no acostamento no dia do término do meu namoro. Sinto o vazio que existe há 7 anos no meu peito e a aparente certeza de que nunca vou conseguir superar isso.
Sinto a falta do meu avô e as suas sábias palavras. Sinto a dor da quase perda do meu afilhado, que uma certa tarde tropeçou pra dentro da piscina. Sinto a dor da insegurança e da falta de acompanhamento das atitudes do cara que amo. Sinto a insônia e as noites de pesadelo, encarando o teto do quarto e pensando se ele está vivo ou fez algo que pode se arrepender.
Sinto a dor de não poder ajudar, a dor de ver alguém cavando seu próprio buraco e acabar me perdendo no buraco alheio. Sinto a dor das minhas respostas mau humoradas e o vazio que a bebida proporciona. Meus dedos coçam e um cigarro iria bem. Sentiria a dor do meu estômago pedindo que eu não exagere.
Sinto a dor física que a dor mental causa nas pessoas ansiosas. A minha ansiedade acaba deixando meus dedos e lábios em carne viva e o meu bruxismo atinge níveis exorbitantes. Ocasionalmente ainda vem uma dor na lombar.
Sinto a dor de querer mudar e não conseguir. Eu quero que a curiosidade vá embora.
Sinto a dor da saudade de todos que já se foram e dos que saíram da minha vida. Sinto a insatisfação e a falta da aceitação de que nem sempre todo mundo caminha junto contigo. Às vezes as pessoas tem caminhos paralelos e aceitar é preciso. Sinto a dor de ser trocada, de ter sonhos e expectativas roubados.
Sinto que o futuro está muito longe e que tudo podia acabar agora. Não quero perspectivas, só queria um remédio para dormir e fazer calar essa voz insuportável da minha cabeça. Queria acreditar que tudo vai ficar bem.