3 de dez. de 2013

estação dos plátanos

A primeira coisa que a minha mãe me levou a fazer depois de quase 3 meses em Porto Alegre internada, foi ir até a igreja do calçadão (não sei nomes) e acender uma vela. Durante anos, a cada aniversário ela me levava para acender uma vela. Daqui a 10 dias, completo 20 anos e há uns 5 anos não acendo mais velas. 

A cada consulta em Porto Alegre, eu penso naquela igreja e agradeço. A cada véspera de aniversário e a cada virada de ano, eu agradeço. A cada vez que eu acordo naquela sala branca totalmente higienizada depois de uma cirurgia, ainda meio abobada, eu agradeço. Agradeço mais ainda por não proporcionar aos meus pais um sofrimento tão grande. Eu percebi que não acendia a vela por mim, acendia pela minha mãe que ficou do meu lado no sofá do hospital de uma cidade desconhecida, segurando a minha mão. Ela que rezava todos os dias. Eu tinha 8 meses, eu nem lembro e nem entendia o que acontecia. Hoje eu também agradeço por não lembrar, deve ter sido uma dor muito grande.

Todos são sempre muito gratos por eu ter sobrevivido (alguns me chamam de guerreira) mas eu não lembro! A minha família sim que é guerreira. Eles lembram e eles tem consciência de que podiam me perder. Eu? Só no instinto de sobrevivência. A cada aniversário tem a sessão nostalgia: 'Ela era tão pequeninha, cabia numa caixa de sapato! Agora está aí grande, já está fazendo *insira a idade aqui* anos!' e a fala é seguida de um afago no cabelo. 

A cada ano eu não acendo mais a vela, mas com certeza agradeço. Não sei direito para quem, mas agradeço mesmo assim. Agradeço por fazer parte da melhor família do mundo, por ter tido a oportunidade de conhecer toda essa gente exótica e companheira. Agradeço por todas as coisas boas que aconteceram e sobre como tudo deu certo. Agradeço pelas aventuras que ainda vão se seguir. Agradeço sem pedir nada. Agradeço pelo que vier, seja bom ou mau.

Em todos os momentos em que me sinto pra baixo, penso que se um bebê sobreviveu, eu sobrevivo também e é isso que me faz continuar. Nada é tão grande assim que dê para lidar. De todos esses anos, aprendi a viver a vida a cada dia, com mais calma e agradecendo sempre.

Estamos todos vivos, quer presente maior que esse?


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