28 de mai. de 2012

O Guardião de Memórias – Kim Edwards



“Sua irmã. Sua irmã gêmea. E se ela não tivesse nascido com a síndrome de Down? Ou, então, se tivesse nascido do jeito que era, simplesmente ela mesma, e seu pai não houvesse erguido os olhos para Caroline Gill, enquanto a neve caía no mundo lá fora e o colega dele atolava numa vala? Paul imaginou os pais, muito jovens e muito felizes, aninhando os dois no carro e dirigindo devagar pelas ruas molhadas de Lexington, no degelo de março que se seguira a seu nascimento. A ensolarada sala de recreação contígua a seu quarto teria sido o quarto de Phoebe. Ela o teria perseguido escada abaixo, passado pela cozinha e entrado no jardim silvestre, com o rosto sempre junto dele, o riso de um ecoando o do outro. Quem teria sido Paul, neste caso?
p.317

Em seguida que comecei a ler este livro me entristeci pela história e quase me cansei das descrições feitas pela escritora.
Persisti na leitura porque acredito que todo livro deve ser terminado para, só então tirarmos nossas conclusões com conhecimento de causa. Trato da mesma forma álbuns e discografias.

Para mim o livro valeu por este parágrafo que cito acima.
Hoje em dia tento, às vezes em vão, diminuir o abismo existente entre dois irmãos. Acredito que o imediatismo adolescente que eu ainda possuo (e acredito que possuirei sempre) me impede de sofrer menos.
Quero um irmão com todas as letras e estripulias e não um meio-irmão. Em meu pensamento o “meio” só serve para que as pessoas saibam que talvez não moremos juntos e que não temos exatamente os mesmos pais. Irmãos são sempre irmãos, a não ser que não queiram ser.


Agora que já nos tiraram a infância e a intimidade que teríamos de nada adianta reclamar e julgar as decisões alheias. Foram tempos difíceis, tenho certeza disso e quem sabe as decisões tenham sido as melhores possíveis.
O fato é que nos foi roubado sete anos de memórias, os sete anos mais inocentes que todo mundo tem na vida.
Já falei, quero um irmão por inteiro, alguém que me acoberte quando eu precisar, que brigue comigo e me bata. Alguém que seja meu porto seguro, confidente e risonho-tristonho. Fico apenas pensando no que poderíamos ser hoje em dia, nas histórias que teríamos. Ter o que os meus amigos têm.
Tudo em vão.

E então fico aqui, tentando e tentando. Prontificando-me a ser uma irmã e recebendo um provável meio-irmão, respeitando a maneira diferente com que fomos criados e procurando em cada meio gesto uma esperança e um sinal de que estou no caminho certo.
Até que o imediatismo adolescente se cale e dê lugar à sábia paciência do companheirismo para toda vida.

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