27 de dez. de 2009

andarilha

Era apenas mais uma noite de verão, daquelas bem quentes onde não se consegue nem ficar dentro de casa e nem dormir. Pouco tempo antes havia caído uma chuvinha para refrescar mas ela estava no posto comprando dois de seus melhores amigos. Agora, ela caminhava por entre os carros, únicos companheiros que haviam restado nas ruas vazias de uma quarta-feira às três horas da manhã. Por entre os dedos de uma mão encontrava-se um cigarro pela metade e na outra a garrafa de vodka ainda no início.

- A noite vai ser longa - suspirou ela sentando-se no cais e admirando a lua batendo na água calma enquanto ela ainda hesitava em sorver a garrafa, ocupando sua boca, não com cigarros, mas com as unhas vermelhas roídas com esmalte pela metade.

Ele a havia deixado e ela, desde então, fingia que tudo estava bem, fingia que a casa sem ele ficava bem melhor. Ela mesma não precisava dos batuques dele e das manias insuportáveis que ela havia adquirido mesmo sem querer dele. Aliás o que ela mais pensava era como havia sido tola, afinal ela nunca se entregava a ninguém e porque com ele seria diferente? Estava cansada daquilo. Aquelas tentativas de quase amor não eram para ela, e sim para ele. Apenas nisso eram opostos. Ele acreditava na chance de ser feliz com outro alguém e se doava, aparentemente, para essa pessoa num piscar de olhos e ela, dura, demorava tempos a acreditar nos outros.

Os goles iam indo rápido lá pelas quatro e alguma coisa, mais rápidos até que os cigarros. A lua permanecia lá, refletida na água, esperando ela ir tocá-la. Ela sentia falta de uma trilha sonora. Ela sempre sentia falta de uma trilha sonora. Não importava, ela sempre achava que deveria existir uma músiquinha de fundo dramatizando tudo um pouco mais. Talvez tudo ficasse mais fácil, afinal nos filmes sempre existe a músiquinha de fundo e no final tudo sempre fica bem. E no momento ela aceitava qualquer coisa, aceitava até ele de volta, desde que ele prometesse amá-la novamente. Ela acreditaria nele, sempre acreditou.

Lembrou-se de uma noite em que os dois haviam passado, naquele mesmo local, admirando a lua. Foi bem no início da relação, ele havia sido tão gentil e carinhoso... Foi naquele dia que ela entregou-se para ele de vez, de corpo e alma. Até naquele dia havia uma trilha sonora: Saving Grave do Pete Murray... Depois disso, nunca mais ela havia ido até lá admirar a lua. Agora parecia um momento propício. Ela desejava tê-lo mais uma vez ali com ela, repetir aquele momento épico, por que não? Mas agora ele encontrava-se bem longe dela, acariciando outra talvez.

Sem querer uma única lágrima escorreu em seu rosto, uma lágrima mal recebida, ela a retirou com raiva. Acendeu outro cigarro. Já eram cinco e meia. Ela quis ir para casa mas tinha desaprendido o caminho. Quis que seus pés a levassem mas não tinha certeza se eles sabiam. Decidiu ficar ali um pouco mais, a garrafa estava na metade ainda.


Encostou-se em uma pedra ali por perto, colocou o rosto entre as pernas e observou uma formiga por cerca de vinte minutos. Parecia fácil ser a formiga. Pelo menos menos complicado do que envolver-se emocionalmente com alguém. Pelo que ela sabia sobre formigas, muito pouco diga-se de passagem, elas apenas acasalavam-se por uma causa maior: a continuação da espécie. O que no caso dela não seria possível ja que não gostaria de ter filhos mas sexo apenas por sexo era uma boa... se ela conseguisse esquecê-lo por alguns instantes.

Olhou o celular, pensou em ligar para ele, eram seis da manhã, ele com certeza já deveria estar
acordado. Desistiu. Não queria causar um embaraço a ele, definitivamente ele estava com a outra. Ficou por alguns momentos apenas observando o sol nascer, quieta. Não havia nada a pensar, só havia a beber, e como bebia. Naquela noite, foi-se o resto do maço que ela tinha e a metade do recém comprado. Foi-se quase a garrafa inteira também. Ela achou melhor parar antes de terminá-la. Agora eram quase sete horas da manhã e o mundo dava sinais, pois praticamente todos já estavam acordados e ela... ah ela recém estava indo para casa... pelo menos para o que ela achava que era casa.

Levantou-se com dificuldade, quebrou a garrafa ao deixá-la cair de sua mão escorregadia. Lamentou. Seguiu caminhando, fingindo que aquelas pessoas desconhecidas indo para o trabalho não existiam e que, novamente, era apenas ela e os carros parados. Esperava com todas as forças que seus pés soubessem onde estava indo porque ela não sabia há semanas para onde estava indo.

25 de dez. de 2009

a casa pequena perfeita

Sempre imaginei ter um apartamentinho simples, para começar, em algum lugar do mundo fora do meu país (leia-se Londres) que talvez tivesse um quarto, uma cozinha, uma sala avulsa e o banheiro [que também não pode ser muito pequeno e nem com o box minúsculo, me dá pavor (:] onde, essa sala avulsa fosse coberta de pôsters das bandas que eu considero as melhores do mundo, incluindo aquelas que ninguém que conhece e as underground. Gostaria de um espelho grande e puffs coloridos, uma cozinha americana e por favor nada de portas e sim arcos entre a sala avulsa e a cozinha, quero que o meu apê, que sempre estará cheio de gente, seja o mais aconchegante possível e por isso deverá ter espaço, mesmo que seja pequeno. Aliás, esse arco será excelente para a comunicação entre as pessoas que fazem a comida e as que apenas fingem ajudar (:

Quero uma estante alta e larga onde colocarei minhas discografias e livros importantes. Não quero quadros na parede pois já bastarão os pôsters. Fotos de meus amigos e família apenas no meu quarto, e no banheiro, se eu quizer.


Uma cozinha simples, até porque eu não sei fazer grandes comidas, é essencial e claro, uma cozinha a lá Kurt Cobain transformou-se no meu sonho. Existem várias fotos, colagens e reportagens que eu adoraria manter em algum lugar para olhar sempre e no então não acho um lugar, logo, na minha geladeira e portas dos armários seria uma boa já que todo mundo tem que comer diariamente.

Quero um amigo que tenha a cópia da minha chave de casa e que more perto, tipo uma ou duas quadras de distância e que viva lá em casa. Não quero nada muito pesado e nem muitas cores nas paredes, quero alguns lenços estampados pendurados nos objetos, quero muitas janelas e com cortinas claras. O apartamento deverá ter as paredes pintadas de branco e apenas uma delas, a maior talvez, será de uma cor que eu ainda não escolhi.

O meu quarto será o melhor dos quartos; ele será independente. Qualquer ser que não coma e logo não excrete (não sei se isso existe) viverá apenas nessa peça. Quero um sofá e uma poltrona. Uma televisão grande e todos aparelhos elétricos possíveis (*.*) -n. Uma televisão grande, um DVD, um som potente e um computador bastam. Em frente a minha cama de casal quero um pôster gigante do Kurt. E claro, uma parede destinada á fotos e recados.

Quero plantas, muitas plantas, florzinhas e apenas arbustos... Uma casa simples mas bonita. Acima de tudo uma casa com a minha cara (coitada).

Quero reuniões de amigos diárias (por que não?), um blues de fundo e o burburinho das vozes amigas. Um vinho para aconchegar e uma comida gostosa (não feita por mim) para servir de balanço ao álcool. Principalmente, quero que não vão embora nunca porque tudo fica tão sem graça quando as pessoas vão embora! Que durmam pelo sofá ou pelos vários colchões adicionais que estarão espalhados pela casa de forma inteligente. Quero que as pessoas esqueçam coisas lá em casa, quero ter que ligar para a(o) melhor amiga(o) para perguntar onde está tal coisa. Acima de tudo, quero uma bagunça achável.

Quero o início de vida em algum lugar novo perfeito. Quero apenas não estar sozinha.



P.S.: Feliz Natal a todos (:

17 de dez. de 2009

A intenção era tomar café

Eu, que como sempre perdia algumas (leia-se muitas) horas do meu dia na frente dessa tela pensando fazer alguma coisa de útil, estava lendo alguns vários blogs com que eu me importo enquanto meus pais fingiam ver algum filme dos vários que estavam passando.
Enfim, em um dos posts, na realidade em um dos blogs o ser criador não parava de falar em café e... deu uma vontade tomar café! Aquelas que não dá de ignorar, tu precisas tomar, trata-se de vida ou morte. Simplesmente me levantei do sofá aconchegante onde me encontrava e desci as escadas que me levavam à cozinha.
Embora sempre tenha alguma água na chaleira, assim como de costume coloco um pouco mais de água, mesmo que não vá usá-la toda, apenas pelo gesto. Abro uma das portas do armário aéreo e pego a minha caneca (minha, só minha.). Abro a outra porta onde, normalmente fica o café passado ou o em pó e descobri que simplesmente não havia café?!
- Como assim não tem café?! - perguntei não sei para quem, apenas para registrar minha indignação na impossibilitação de tomar o santo café que nunca me dá vontade de sorver.
- Ironia talvez? - fala uma voz masculina das sombras no fundo da cozinha (imaginem que a minha cozinha é grande e que, fato real, ela tem duas lâmpadas para iluminá-la).
Não reconheço a voz de imediato e no entanto não me preocupo com ela, talvez por até nem ter registrado que alguém me respondeu, continuo tentando achar café. Passam-se alguns minutos até que, depois de ter procurado a casa inteira atrás do dito cujo me ponho em pé, com as mãos na cintura, no meio da cozinha tentando com todas as forças aceitar o fato de não existir café naquela casa.
"Que casa é essa que não tem café? Não pode ser!" penso.
- Já que não tem café, acho que não vais precisar da água, podes apagar o fogo. - novamente a voz fala e, agora, pareço escutar.
olho para o canto do qual ela vem. Não me prendo, a caneca solitária em cima da mesa parecia mais interessante.
- Não adianta me ignorar. Acho melhor apagar o fogo.
Aquilo já estava me irritando. Vou até o interruptor no início da cozinha e acendo a outra luz,
revelando um Bob Dylan meio acabado sentado no banquinho que, costumeiramente, fica do lado do freezer.
- Ah, é tu! - finalmente me refiro àquele ser.
- Apaga o fogo! - ele exclama mostrando um pingo de irritação.
- Não! Deixa o fogo aceso, não está atrapalhando ninguém. Eu VOU conseguir tomar meu café.
Me sento em uma das cadeiras da cozinha pensando nas minhas possibilidades. Me lembro do pó do café. Repentinamente me levanto e vou até a despensa localizada embaixo da escada e relato: não tem pó de café!
- Porra mas não acerto uma! - exclamo (é eu gosto dessa palavra) indignada. Volto a me sentar na mesma cadeira que sempre sento enquanto aquela praga do Bob Dylan me observa com um sorrisinho maldoso no rosto.
- Agora, por favor, dá pra desligar o fogo ou ainda não te derrotasse?
- EU NÃO VOU DESLIGAR O FOGO! EU QUERO TOMAR UM CAFÉ! - grito, me levanto, esbravejo. Ele simplesmente me olha e sorri. Se levanta e apaga o fogo da água que, estranhamente ainda não havia fervido. Ele, calmamente volta ao seu lugar e só fica parado, esperando uma reação minha.
Deixo a cozinha. Ligo a luz do meu quarto, pego um halls (meu vício, admito) e como.
Lá de longe ele me observa e fala:
- Mas à meia noite o que tu queres comendo halls e tomando café?
- Eu estou de férias, não tenho hora para acordar, logo posso tomar café a hora que eu quizer e, se tu não andas acompanhando a minha vida ultimamente perceberás que de tanto tomar café nas madrugadas perdidas estudando essa bebida já não me estimula tanto assim.
- Hum... É realmente, não ando atualizado, ficou muito chato nas últimas duas semanas.
- E graças a ti estou comendo halls, já havia me curado desse mal e...
- Tu não vais te curar desse mal, é mais forte que tu e tu sabes. Podes até diminuir mas nunca parar.
- Que seja.
Volto à cozinha e me sento. Imediatamente volto a me levantar, abro a geladeira, olho e desprezo as coisas que ali estão.
"Tem Coca (*-*) mas não é isso que eu quero, eu quero café... Hum, sorvete... não, salada? também não..."
- Porque não tentas o chocolate ali do canto? - ele já estava do meu lado, olhando o conteúdo da geladeira e inteferindo nos meus pensamentos.
- Não, não quero chocolate, quero café!
- Hum, desculpa, percebi o quanto te fiz mal tomando aquela última caneca de café mas eu achei que ninguém ia querer...
- O QUE? Foste tu que tomasse o MEU café? - a raiva crescendo dentro de mim.
- Foi. - se ele não fosse o Bob Dylan e não tivesse tomado a última caneca de café da casa inteira e se não fosse meia noite (o que quer dizer que não existem muitos lugares abertos em que eu pudesse comprar café) até ficaria com pena dele, fez aquela carinha de cachorrinho com fome com olhinhos brilhantes.
Fechei a porta da geladeira com MUITA raiva. Estava pronta para sair daquele local quando me lembrei dos vários chás contrabandiados do Chuí. Liguei novamente o fogo ignorando as várias perguntas daquele Bob Dylan chato, abri o outro armário aéreo da minha cozinha e peguei o chá preto (penso eu ser a coisa mais próxima de café naquela casa e que, eu nunca havia provado Q). Pus um sache na caneca e guardei o resto, a água começou a ferver.
- Hum, muito bom, pensastes em outras opções já ia mencionar os chás. - com aquele ar de orgulho misto de arrogância (se é que isso existe meu Deus) ele, cossando o queixo falou.
- Cala a boca.
Peguei minha caneca com um pires em cima e apaguei as luzes da cozinha, já pensando que aquele incômodo iria comigo.
- NÃO ME DEIXA AQUI! - gritou aquela coisa e eu, quase que na escada voltei. Admito que não sei por que voltei mas eu fui.
- Porque? - seca.
- Por que eu não posso subir. Eu sou fruto da tua imaginação ou porque outro motivo eu estaria aqui nessa cozinha falando contigo? Não posso aparecer para os teus pais.
- Hum, graças a Deus*.
Abandonei ele. Por mais que ele encomodasse não iria voltar. Não o suporto. Não tenho razões, é verdade mas desde quando precisamos de motivos para não gostar de alguém. Admito também que tenho uns dois ou três álbuns dele e que escuto de vez em quando mas, pessoalmente, acho ele um porre.
Voltei ao meu lugar e quando finalmente me sentei minha mãe pergunta com que eu estava falando.
- Com o meu Bob Dylan imaginário. E sabiam que não tem mais café nessa casa!?
- É, tem que comprar.
Bebo meu chá preto e descubro que este não tem nada a ver com o que eu procurava. Não gosto mas agora tenho que beber. Infelizmente.
A única coisa que me salva de mais mau-humor em um outro um encontro ridículo com o Bob-Dylan-imaginário-da-cozinha é a propagando do perfume da Dior desço e silenciosamente, sem acender nenhuma luz, só deposito a caneca na pia, dou boa noite para o companheiro indesejado, recebo um boa noite sonolento e fecho a porta do meu quarto.

Tomara que ele não volte a me perturbar tão cedo e que alguém compre café!




* Mencionando Deus demais nessa história :S

12 de dez. de 2009

brevemente


ando precisando de pessoas novas, novas aventuras e novas ocupações. queria terminar os 15 de uma forma inesperada e começar os 16 com o pé direito. tenho saudades das coisas que vivi nos meu 14 anos por exempelo, poderiam voltar à acontecer, nem me importaria. desde que eu fizesse sentido já estaria bom. às vezes até sonho com alguma coisa que faça sentido mas ultimamente nem tenho sonhado de tão cansada. Não sonho, não espero, só desejo...


P.S.: 2 dias *-*