3 de mai. de 2019

Ser integral

Eu sinto que nunca te abandonei. Eu sinto que nós nunca morremos porque nunca vou ser capaz de esquecer.
Hoje, assistindo uma aula sobre limites eu percebi duas coisas. A primeira, que eu fiz o pacto de nunca te abandonar. Eu me comprometi com isso devido ao teu histórico de abandono e porque eu sinto uma ligação tão forte que eu pensei que sim, nunca te abandonaria porque até hoje, não faz sentido um mundo onde eu não saiba alguma coisa de ti. A outra coisa que eu pensei foi na importância da nossa conversa aquele dia no laguinho do 6. Me lembro de estar tão nervosa que eu podia vomitar. Me lembro da tua cara de incrédulo quando eu respondi que sim, se fosse necessário te bloquearia em todas redes sociais e por telefone. Lembro que foi ali que tu não entendeste que, pelo menos da minha parte, não era abandono. 

Hoje eu vejo como foi tudo caótico e como nós tínhamos as ferramentas na nossa mão para que pudesse não ser caótico. A gente só não tinha a experiência de como construir algo calmo, ordenado e feliz. E eu acho que me sinto mal em relação a isso. Me sinto decepcionada, num primeiro momento contigo e depois comigo porque vejo que eu coloquei poder demais na tua mão. Outra coisa que a experiência me ensinou.

Penso em ti como um intensivão da vida. Hoje eu admito que tu estavas certo sobre muitas coisas, que tu me enxergavas como eu realmente era, coisa que na época eu achava que não, porque eu quem não me enxergava. Todo o papo da criança acuada chorando no canto do quarto escuro estava certo! E daí me vem a pergunta, será que eu consegui te enxergar mesmo? Na minha cabeça, eu te tenho muito bem delineado, mas sempre me pergunto se eu te projetei ou se eu realmente olhei fundo dentro de ti quando eu disse que gostava de ti, aquele dia naquela cama e naquele quarto. Porque, por um segundo, eu cheguei até a escutar a tua voz me dizendo o que tu só me disseste três meses depois. 

Acredito que eu seja tão cativada por esse assunto, mesmo com anos sem te ver, devido ao quanto, cada fibra do meu Ser, me mandava confiar em ti e como mesmo confiando eu quebrei a cara tão fundo. Como eu podia ter sinais tão conflitantes se a mensagem que eu tinha era tão clara? Como eu realmente confiei no meu instinto eu me dei tão mal? Como essa experiência afetou a minha vida depois disso? Porque por muito tempo eu achei que não dava mais pra confiar no que eu sentia. Eu não queria sentir aquela dor de perda nunca mais na minha vida. Se eu me concentrar, até hoje dói. E o pânico de que essa dor não fosse só sentimental, e sim física, de tu, teu corpo e teu Ser não existirem mais nesse tempo e espaço, me deixa e deixou com o coração na mão, um nó na garganta e toda entrevada da coluna. 

Eu me coloquei numa situação de responsabilidade que não era minha e hoje eu vejo que confundi tudo. E ao mesmo tempo, aquele dia ensolarado no laguinho foi a oportunidade de uma vida inteira, justamente porque foi tão doído e tão difícil. Porque muitas frases que tu dizia e que eu me irritava, hoje fazem todo o sentido do mundo.
"ou a gente escolhe o certo ou o fácil. O fácil nunca é certo, e o certo nem sempre é fácil...
e 
"eles são broncos demais para perceber que não estou mais ali"



Todo trauma que eu impus sobre o meu corpo e meu espírito quando, mesmo na beira da praia, eu só ouvia aquele telefone cair na caixa postal e estar indisponível depois de quase 14 horas de sumiço me colocou numa postura séria e desesperada. Me tornou obsessiva e responsável por uma coisa que nunca foi minha, mas que eu assumi. Eu nunca quis te abandonar e tu quis me abandonar. Eu queria que fosse recíproco, desde o início. Eu confundi tudo e assumi a responsabilidade que tu deixaste que eu assumisse. Eu não podia te abandonar, não importava o quão difícil ficasse. Na minha cabeça, eu era a tua pessoa, aquela que tu correria quando tudo desse errado. 

A minha ansiedade e o meu pensamento obsessivo me tiraram anos de reflexões, até que eu descobri o trauma e o choque que eu vivenciei e me coloquei entregue a sentir todos esses sentimentos em sua totalidade para então ressignifica-los. Eu sentia que ia morrer sempre que eu pensava que tu podias morrer. 

Meu pensamento sempre foi: COMO QUE ELE NÃO SABE O QUE ELE FEZ COMIGO? Como ele não entende que doeu, que ele me colocou como responsável pela vida dele, que eu me sentiria culpada se os planos dele dessem certo, que ele realmente tinha um plano tangível para que tudo acabasse? Como ele vem falar comigo tranquilamente, fazendo piada e fingindo que nada aconteceu? Eu fiquei presa naquela praia com aquele telefone chamando e ninguém respondendo. Fiquei presa naquele momento em que me atenderam, mas que não podiam me dar informações porque nem me passar por namorada/irmã eu podia. 

A medida que eu fui entendendo que foi justamente aquele momento que me trouxe a grandiosidade do meu sentimento em relação a ti e todo carinho que eu sentia, as lágrimas pararam de cair quando eu relatava aquela situação. Uma série de coisas foram sendo compreendidas. Até hoje o caminho mais fácil é entrar na frase “mas como ele não entende o que eu senti naquele momento?” e ver que eu nunca quis te abandonar e que, naquele dia de sol com o mar banhando meus pés, que o telefone não parava de chamar sem ninguém atender que eu olhei pro céu e pedi que tudo ficasse bem e então eu comecei a rezar, porque era a única coisa que eu podia fazer... ver que, por meses, o único jeito de parar o meu desespero era rezar até entrar num estado de exaustão e então conseguir dormir... se isso não é amor e carinho, então eu não sei o que é. 

Falar que eu te amo não é uma coisa fácil. Porque eu não sinto um sentimento conhecido. Eu não acho que muitas coisas que eu fiz enquanto estávamos juntos foi por amor. Muito pelo contrário. Mas hoje, é isso. Eu não considero que quem ama, ama num tempo verbal diferente do presente. Portanto, sim, eu te amo hoje e agora. Desconstruir a palavra amor também foi uma coisa complexa mas foi só assim que hoje eu consigo dizer que te amo. 

Hoje eu perguntei sobre as formas de comunicação contigo e um jogo bem complexo e sutil apareceu. E principalmente, na posição da chegada de um novo nível de consciência, a carta Os Amantes foi apresentada.

É preciso ter em mente estas três coisas: o amor de nível inferior é o sexo -
este é físico - e o refinamento maior do amor é a compaixão. O sexo encontra-se abaixo do amor, a compaixão está acima dele; o amor fica exatamente no meio. Bem pouca gente sabe o que é o amor. Noventa e nove por cento das pessoas, infelizmente, pensa que sexualidade é amor - não é. A sexualidade é por demais animal; certamente, ela contém o potencial para transformar-se em amor, mas ainda não é amor, apenas potencial... Se você se tornar consciente e alerta, meditativo, então o sexo poderá ser transformado em amor. E se a sua atitude meditativa tornar-se total, absoluta, o amor poderá ser transformado em compaixão. O sexo é a semente, o amor é a flor, compaixão é a fragrância. Buda definiu a compaixão como sendo "amor mais meditação". Quando o seu amor não é apenas um desejo pelo outro, quando o seu amor não é apenas uma necessidade, quando o seu amor é um compartilhar, quando seu amor não é de um pedinte, mas de um imperador, quando o seu amor não está pedindo nada em troca, mas está pronto para dar apenas - dar só pela total alegria de dar -, então, acrescente a meditação a ele, e a pura fragrância é exalada. Isso é compaixão; compaixão é o fenômeno mais elevado.

Comentário: 
Aquilo que chamamos de amor é na verdade todo um espectro de modos de se relacionar, abrangendo desde a terra até o céu. No nível mais terreno, o amor é a atração sexual. Muitos de nós continuamos presos nesse nível, porque o condicionamento a que fomos submetidos sobrecarregou nossa sexualidade com toda sorte de expectativas e de repressões. Na verdade, o maior "problema" do amor sexual é que ele nunca perdura. Só quando aceitamos tal fato é que podemos celebrá-lo pelo que ele realmente é - dar as boas-vindas a seu aparecimento, e dizer adeus com gratidão quando ele se vai. Então, à medida que vamos amadurecendo, podemos vivenciar o amor que existe além da sexualidade, e que honra a individualidade singular do outro. Começamos a compreender que o nosso parceiro funciona frequentemente como um espelho, refletindo aspectos desconhecidos do nosso ser mais profundo, e ajudando-nos a nos tornarmos completos em nós mesmos. Esse amor é baseado na liberdade, não em expectativas nem na necessidade. Em suas asas, somos levados cada vez mais alto em direção ao amor universal, que vivencia tudo como uma coisa só.

  
Talvez seja por isso que, a cada ano, eu vá descobrindo mais lições sobre o nosso tempo juntos e na forma de ir amadurecendo o que vivemos. Talvez seja por isso que eu sinta tanto medo e tanto medo de me jogar no desconhecido porque as lições que a nossa ligação nos dá são transcendentais. Que fomos a experiência certa no momento certo. E que tudo que veio depois, honra e reverencia o que vivemos porque estávamos na base de todo conhecimento, que está sendo assentado e integrado para que novas lições apareçam. 

Hoje eu busco integrar, luz e sombra. Hoje, eu deixo o pedaço de bacon fazer o que ele quer. Por hoje, eu só queria dizer que eu não dou as costas para a tua energia na minha vida, que eu sinto muito pelas memórias de dor que compartilho contigo, te peço perdão por unir meu caminho ao teu para a cura, te agradeço por estar aqui para mim e te amo por ser quem tu és.

Nenhum comentário:

Postar um comentário