13 de ago. de 2013

Vincent

Setembro de 1888

(...) Parece que no livro Minha Religião Tolstói insinua que, independentemente de qualquer revolução violenta também haverá uma revolução íntima e secreta nas pessoas, da qual ressurgirá uma nova religião, ou melhor, algo totalmente novo, que não terá nome, mas que terá o mesmo efeito de consolar, tornar a vida possível, que outrora tivera a religião cristã.

Parece-me que este livro é bem interessante, acabaremos fartos de tanto cinismo, de tanto ceticismo, de tanta zombaria, e desejaremos viver mais musicalmente. Como isto se dará, e o que encontraremos? Seria curioso poder predizê-lo, mas ainda vale mais pressentir isso em vez de ver no futuro absolutamente nada além de catástrofes, que contudo não deixarão de se abater como raios terríveis sobre o mundo moderno e a civilização através de uma revolução, ou de uma guerra, ou de uma bancarrota nos Estados carcomidos. Ao estudarmos a arte japonesa, veremos então um homem incontestavelmente sábio, filósofo e inteligente, que passa seu tempo como? Estudando a distância da Terra a Lua? Não. Estudando a política de Bismarck? Não. Apenas estudando um talo de capim.
Auto-retrato (1888) 

Mas este talo de capim leva-o a desenhar todas as plantas, a seguir as estações, os grandes aspectos das paisagens, enfim, os animais, e depois a figura humana. Assim ele passa sua vida, e a vida é muito curta para fazer tudo isso.

Ora, não é quase uma verdadeira religião o que nos ensinam estes japoneses tão simples que vivem na natureza como se eles próprios fossem flores?

E não poderíamos estudar a arte japonesa, parece-me, sem que nos tornássemos muito mais alegres e mais felizes; e é preciso que voltemos à natureza apesar de nossa educação e de nosso trabalho num mundo de convencionalismos.

(...)
Retirado de Cartas a Théo pg. 271 e 272

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