18 de jun. de 2012

"Fé cega e pé atrás"


(EngHaw)

Essa história de fé e religião tem me ocupado bastante a cabeça ultimamente. Volta e meia vem alguém me perguntar no que eu acredito, se eu rezo ou porque não vou à missa.
Não quero que me perguntem isso, porque eu não quero responder. Acho que ter uma resposta é se limitar demais, se prender a uma diretriz de uma religião e, quanto a isso, na minha visão de mundo sempre existiram dois grandes grupos: os que têm fé  e os que não têm.
Quem é católico, protestante, espírita, umbandista ou que crê em alguma coisa, se encaixa no grupo dos que tem fé. Os que realmente não creem em nada e fazem jus ao título de ateu são, pra mim, os que não têm fé. 

“Simples e muito infantil” foi o que um dia me disseram. Desde então eu não falo mais sobre o assunto, mas nessa semana ele veio me martelando a cabeça de forma descomunal até que ontem, tive uma conversa sobre oração com a minha mãe.
De forma geral, olho todas as religiões como uma coisa só. É claro que não tenho conhecimento sobre todas e posso estar falando bobagem, mas acredito que os fundamentos sejam os mesmos. Acredito que as religiões tenham sido criadas pelos líderes de comunidades para simplesmente colocar ordem, explicar ao ser humano que existe um caminho bom e que, se tu não sucumbires à tentação do caminho ruim tu serás recompensado.

Essa é a minha maneira infantil de olhar a religião e todas as vertentes que saem desse grande conceito. É a forma de explicar, universalmente, que não é legal matar, machucar, roubar ou prejudicar de qualquer forma o próximo. Desta forma, se tu ignorares o teu instinto animal, tu serás civilizado (superior a todos os outros animais do mundo) e, no fim, terás uma recompensa pelo ‘bom comportamento’. 
A religião é a antiga (ok, não tão antiga, mas deveria) forma de influenciar massas, a forma de organização política que precedeu à atual, caso contrário nunca teríamos nos desenvolvido e o caos reinaria. É a forma de instruir todo mundo sobre o certo e o errado (pensem, por exemplo, nas idades anteriores à Idade Média).

Já a fé, é natural do ser humano. Sempre existiram questionamentos como de onde viemos, pra onde vamos, porque estamos e se estamos sozinhos. Questionamos sobre a existência do Universo, o propósito dos seres humanos, da Terra, se existe algo além do nosso plano ou Universo e estas perguntas-chave são o que continua nos impulsionando na nossa pesquisa sobre o que há além da Terra.

Por isso, reforço o argumento sobre os dois grandes grupos, independente de onde eles depositam sua fé.
Acredito que se as pessoas ignorassem as vertentes da religião, sem fanatismo ou conversão e se prenderem apenas ao fundamento mais básico, o amor, haveria a paz mundial e o ser humano seria capaz de alcançar o ponto máximo em sua evolução, afinal pressuponho que os ateus também amem.


“Só o amor faz o mundo andar”


12 de jun. de 2012

da rua

Em épocas de virada cultural



eu já não presto mais atenção. quando estou na rua, não me distraio mais pensando nas histórias boas e ruins que  as pessoas contam, involuntariamente, com seus gestos. deixei meu lado humano em casa, esquecido por baixo das tantas roupas que o frio daqui do sul nos força a usar.
perdi o poder do auto-conhecimento nos olhos alheios e me desesperei.

5 de jun. de 2012

Café nos dias de frio.


- Eu sei que tu sempre achaste que poderia fazer tudo, só que agora chegou o momento da verdade. O momento em que todos têm que fazer a sua escolha e focar. – disse a voz arrastada.

Ali no chão da sala, em mais um dia lindo e ensolarado de frio, existia uma guria que não queria ser só uma física ou só uma pseudo escritora, ou só uma oceanógrafa.
Quando era criança, diziam que as pessoas poderiam ser tudo que quisessem, desde que sonhassem. É claro que não é verdade, assim como não existem príncipes encantados.
- A questão é: Porque que falam isso? – falei, irritada. - Certamente não vou falar isso para os meus filhos.
- Ao que tudo indica, nós precisamos de algum momento na vida em que realmente acreditemos, com todas nossas forças, que podemos mudar o mundo. – a voz me respondeu.
- É, pra que exista, em cinco gerações, alguém que consiga mudar o mundo.

Depois de um tempo eu deixei ele ‘sair de mim’. Deixei-o sentar no sofá e me encarar.
- Me fala, Dylan, como tu conseguiu mudar o mundo?
Obviamente não tive resposta. Ele ficou ali sentado usando seu chapéu que escondia seu rosto, longe do sol.

- Não tais com frio? – perguntei. O silencio estava me inquietando, não havia chamado-o para que ficasse quieto.
- Não, mas tu podias fazer um café pra gente. Podíamos ir pra cozinha, sentar em cadeiras. Tens que saber também que não é tu que me chamas, metida. -  Dylan falou calmamente, de forma simpática até.
- Não quero café e nem cadeiras. Quero chimarrão e sol, a cozinha é triste. Preciso descobrir que caminho eu quero seguir, podias me ajudar. Eu gosto de ti, agora.

- Por quê? – depois de um tempo ele finalmente sussurrou. – Porque tu subitamente começaste a gostar de mim e porque tens que descobrir um caminho... Existe uma coisa chamada hobby.
- Eu sei e sempre achei que poderia ser uma física que escreve, mas estou vendo que não vai adiantar. Não dá pra escrever bem e pouco. Todos os escritores que eu admiro escrevem páginas por dia. Eu calculo páginas por dia. Pra mim é mais natural resolver integrais e fazer gráficos do que montar frases e fazer um texto sobre a economia do mundo, por exemplo.
- Mas todos os escritores que tu admira escrevem páginas pra que uma frase valha a pena o esforço. A maneira objetiva de pensar é escrever páginas. A tua maneira é só diferente.
- E ineficaz, ruim.

- Então porque tu tens medo de te entregar à escrita?
- Porque eu não gosto do que ela me traz. Prefiro calcular.
- Tu te importas demais, com tudo. – falou Dylan, pausadamente. - Preciso de um café.
- É só colocar água na chaleira, se é que já não tem. Me deixa aqui.
- Em qualquer profissão tu vai precisar escrever, a diferença é se tu quer que escrever seja a tua profissão ou apenas faça parte dela. É uma decisão simples, assim como levantar e ir fazer um café pro melhor compositor já vivo.
Hoje ele estava, surpreendentemente simpático. Sorri bobamente.
- Tu sabias que eu adquiri toda tua discografia? – perguntei, sabendo que ele sabia que sim.
- Mas claro.
- E o que tu sentiste disso?
- Nada. Espero que tu saibas que milhões de pessoas no mundo têm a minha discografia. Milhões de pessoas no mundo fantasiam comigo e milhões irão fantasiar.
- Então é isso? É só admitir que tu é O cara?

- Mas claro que não. Eu ainda acho que não sei escrever. Eu ainda me pergunto por que as pessoas prestam atenção no que eu faço e meus ídolos ainda estão anos-luz a minha frente.

Chega a ser idiota. A gente sempre vai achar que não é muito bom. Independente da carreira que eu escolher. 

- E o café? – Dylan sorriu maliciosamente. Não respondi, só olhei pra ele. – Me responde, porque mesmo que o sol fique atrapalhando a tua visão, tu mesmo assim ficas sentada na mesma posição?
- Porque eu to com frio.
- Então, tu continuas aí por uma causa maior. – ele suspirou, impaciente.
- Tá, e ai? Mesmo sendo uma causa maior meu pé ainda tá gelado.
- É, mas tu não entendeste a metáfora, tais precisando de um café. – e sorriu com sua boquinha pequena.

Parei por uns instantes, observando as alpargatas já gastas. Dylan cruzou as pernas, voltei a encará-lo.
- Ok, eu preciso descobrir qual é a minha causa maior. – falei com dificuldade. - Não me ajudaste muito.
- Tens certeza? Vamos pra cozinha?
Braba, me levantei e fui tomar um café com o Dylan.