3 de mai. de 2019

Ser integral

Eu sinto que nunca te abandonei. Eu sinto que nós nunca morremos porque nunca vou ser capaz de esquecer.
Hoje, assistindo uma aula sobre limites eu percebi duas coisas. A primeira, que eu fiz o pacto de nunca te abandonar. Eu me comprometi com isso devido ao teu histórico de abandono e porque eu sinto uma ligação tão forte que eu pensei que sim, nunca te abandonaria porque até hoje, não faz sentido um mundo onde eu não saiba alguma coisa de ti. A outra coisa que eu pensei foi na importância da nossa conversa aquele dia no laguinho do 6. Me lembro de estar tão nervosa que eu podia vomitar. Me lembro da tua cara de incrédulo quando eu respondi que sim, se fosse necessário te bloquearia em todas redes sociais e por telefone. Lembro que foi ali que tu não entendeste que, pelo menos da minha parte, não era abandono. 

Hoje eu vejo como foi tudo caótico e como nós tínhamos as ferramentas na nossa mão para que pudesse não ser caótico. A gente só não tinha a experiência de como construir algo calmo, ordenado e feliz. E eu acho que me sinto mal em relação a isso. Me sinto decepcionada, num primeiro momento contigo e depois comigo porque vejo que eu coloquei poder demais na tua mão. Outra coisa que a experiência me ensinou.

Penso em ti como um intensivão da vida. Hoje eu admito que tu estavas certo sobre muitas coisas, que tu me enxergavas como eu realmente era, coisa que na época eu achava que não, porque eu quem não me enxergava. Todo o papo da criança acuada chorando no canto do quarto escuro estava certo! E daí me vem a pergunta, será que eu consegui te enxergar mesmo? Na minha cabeça, eu te tenho muito bem delineado, mas sempre me pergunto se eu te projetei ou se eu realmente olhei fundo dentro de ti quando eu disse que gostava de ti, aquele dia naquela cama e naquele quarto. Porque, por um segundo, eu cheguei até a escutar a tua voz me dizendo o que tu só me disseste três meses depois. 

Acredito que eu seja tão cativada por esse assunto, mesmo com anos sem te ver, devido ao quanto, cada fibra do meu Ser, me mandava confiar em ti e como mesmo confiando eu quebrei a cara tão fundo. Como eu podia ter sinais tão conflitantes se a mensagem que eu tinha era tão clara? Como eu realmente confiei no meu instinto eu me dei tão mal? Como essa experiência afetou a minha vida depois disso? Porque por muito tempo eu achei que não dava mais pra confiar no que eu sentia. Eu não queria sentir aquela dor de perda nunca mais na minha vida. Se eu me concentrar, até hoje dói. E o pânico de que essa dor não fosse só sentimental, e sim física, de tu, teu corpo e teu Ser não existirem mais nesse tempo e espaço, me deixa e deixou com o coração na mão, um nó na garganta e toda entrevada da coluna. 

Eu me coloquei numa situação de responsabilidade que não era minha e hoje eu vejo que confundi tudo. E ao mesmo tempo, aquele dia ensolarado no laguinho foi a oportunidade de uma vida inteira, justamente porque foi tão doído e tão difícil. Porque muitas frases que tu dizia e que eu me irritava, hoje fazem todo o sentido do mundo.
"ou a gente escolhe o certo ou o fácil. O fácil nunca é certo, e o certo nem sempre é fácil...
e 
"eles são broncos demais para perceber que não estou mais ali"



Todo trauma que eu impus sobre o meu corpo e meu espírito quando, mesmo na beira da praia, eu só ouvia aquele telefone cair na caixa postal e estar indisponível depois de quase 14 horas de sumiço me colocou numa postura séria e desesperada. Me tornou obsessiva e responsável por uma coisa que nunca foi minha, mas que eu assumi. Eu nunca quis te abandonar e tu quis me abandonar. Eu queria que fosse recíproco, desde o início. Eu confundi tudo e assumi a responsabilidade que tu deixaste que eu assumisse. Eu não podia te abandonar, não importava o quão difícil ficasse. Na minha cabeça, eu era a tua pessoa, aquela que tu correria quando tudo desse errado. 

A minha ansiedade e o meu pensamento obsessivo me tiraram anos de reflexões, até que eu descobri o trauma e o choque que eu vivenciei e me coloquei entregue a sentir todos esses sentimentos em sua totalidade para então ressignifica-los. Eu sentia que ia morrer sempre que eu pensava que tu podias morrer. 

Meu pensamento sempre foi: COMO QUE ELE NÃO SABE O QUE ELE FEZ COMIGO? Como ele não entende que doeu, que ele me colocou como responsável pela vida dele, que eu me sentiria culpada se os planos dele dessem certo, que ele realmente tinha um plano tangível para que tudo acabasse? Como ele vem falar comigo tranquilamente, fazendo piada e fingindo que nada aconteceu? Eu fiquei presa naquela praia com aquele telefone chamando e ninguém respondendo. Fiquei presa naquele momento em que me atenderam, mas que não podiam me dar informações porque nem me passar por namorada/irmã eu podia. 

A medida que eu fui entendendo que foi justamente aquele momento que me trouxe a grandiosidade do meu sentimento em relação a ti e todo carinho que eu sentia, as lágrimas pararam de cair quando eu relatava aquela situação. Uma série de coisas foram sendo compreendidas. Até hoje o caminho mais fácil é entrar na frase “mas como ele não entende o que eu senti naquele momento?” e ver que eu nunca quis te abandonar e que, naquele dia de sol com o mar banhando meus pés, que o telefone não parava de chamar sem ninguém atender que eu olhei pro céu e pedi que tudo ficasse bem e então eu comecei a rezar, porque era a única coisa que eu podia fazer... ver que, por meses, o único jeito de parar o meu desespero era rezar até entrar num estado de exaustão e então conseguir dormir... se isso não é amor e carinho, então eu não sei o que é. 

Falar que eu te amo não é uma coisa fácil. Porque eu não sinto um sentimento conhecido. Eu não acho que muitas coisas que eu fiz enquanto estávamos juntos foi por amor. Muito pelo contrário. Mas hoje, é isso. Eu não considero que quem ama, ama num tempo verbal diferente do presente. Portanto, sim, eu te amo hoje e agora. Desconstruir a palavra amor também foi uma coisa complexa mas foi só assim que hoje eu consigo dizer que te amo. 

Hoje eu perguntei sobre as formas de comunicação contigo e um jogo bem complexo e sutil apareceu. E principalmente, na posição da chegada de um novo nível de consciência, a carta Os Amantes foi apresentada.

É preciso ter em mente estas três coisas: o amor de nível inferior é o sexo -
este é físico - e o refinamento maior do amor é a compaixão. O sexo encontra-se abaixo do amor, a compaixão está acima dele; o amor fica exatamente no meio. Bem pouca gente sabe o que é o amor. Noventa e nove por cento das pessoas, infelizmente, pensa que sexualidade é amor - não é. A sexualidade é por demais animal; certamente, ela contém o potencial para transformar-se em amor, mas ainda não é amor, apenas potencial... Se você se tornar consciente e alerta, meditativo, então o sexo poderá ser transformado em amor. E se a sua atitude meditativa tornar-se total, absoluta, o amor poderá ser transformado em compaixão. O sexo é a semente, o amor é a flor, compaixão é a fragrância. Buda definiu a compaixão como sendo "amor mais meditação". Quando o seu amor não é apenas um desejo pelo outro, quando o seu amor não é apenas uma necessidade, quando o seu amor é um compartilhar, quando seu amor não é de um pedinte, mas de um imperador, quando o seu amor não está pedindo nada em troca, mas está pronto para dar apenas - dar só pela total alegria de dar -, então, acrescente a meditação a ele, e a pura fragrância é exalada. Isso é compaixão; compaixão é o fenômeno mais elevado.

Comentário: 
Aquilo que chamamos de amor é na verdade todo um espectro de modos de se relacionar, abrangendo desde a terra até o céu. No nível mais terreno, o amor é a atração sexual. Muitos de nós continuamos presos nesse nível, porque o condicionamento a que fomos submetidos sobrecarregou nossa sexualidade com toda sorte de expectativas e de repressões. Na verdade, o maior "problema" do amor sexual é que ele nunca perdura. Só quando aceitamos tal fato é que podemos celebrá-lo pelo que ele realmente é - dar as boas-vindas a seu aparecimento, e dizer adeus com gratidão quando ele se vai. Então, à medida que vamos amadurecendo, podemos vivenciar o amor que existe além da sexualidade, e que honra a individualidade singular do outro. Começamos a compreender que o nosso parceiro funciona frequentemente como um espelho, refletindo aspectos desconhecidos do nosso ser mais profundo, e ajudando-nos a nos tornarmos completos em nós mesmos. Esse amor é baseado na liberdade, não em expectativas nem na necessidade. Em suas asas, somos levados cada vez mais alto em direção ao amor universal, que vivencia tudo como uma coisa só.

  
Talvez seja por isso que, a cada ano, eu vá descobrindo mais lições sobre o nosso tempo juntos e na forma de ir amadurecendo o que vivemos. Talvez seja por isso que eu sinta tanto medo e tanto medo de me jogar no desconhecido porque as lições que a nossa ligação nos dá são transcendentais. Que fomos a experiência certa no momento certo. E que tudo que veio depois, honra e reverencia o que vivemos porque estávamos na base de todo conhecimento, que está sendo assentado e integrado para que novas lições apareçam. 

Hoje eu busco integrar, luz e sombra. Hoje, eu deixo o pedaço de bacon fazer o que ele quer. Por hoje, eu só queria dizer que eu não dou as costas para a tua energia na minha vida, que eu sinto muito pelas memórias de dor que compartilho contigo, te peço perdão por unir meu caminho ao teu para a cura, te agradeço por estar aqui para mim e te amo por ser quem tu és.

18 de dez. de 2018

Sobre as Lições que nos acompanham há anos

No final do ano passado, quando ajudava uma amiga a arrumar as malas para o estágio, brinquei de leitura de tarot pensando em ti. Nunca tinha feito e parti para uma das leituras mais complexas porque gostei da introdução. Depois de jogar as cartas nas suas posições fui ver o que tudo aquilo significava e não gostei das conexões que fiz. Não me lembro ao certo quais cartas e em quais posições mas sei que as cartas Apego ao passado e Consciência saíram. Fiquei com esse sentimento de que ainda haviam coisas que eu precisava trabalhar.
Antes de trocar o marca-passo, como sempre, trabalhei com a possibilidade de morrer e foi então que eu me lembrei dessa jogada de cartas. Ao longo desse ano tive muitos avanços e assumi que o assunto estava encerrado. Quando conversamos e eu me senti confortável de novo, na maior parte do tempo, pensei que, pelo menos, tinha aprendido a maior parte das lições. Agora, são duas pessoas completamente estranhas conversando porque quem eu conheci já não deve existir mais... e então pensando nisso resolvi jogar novamente as cartas, com o mesmo jogo e a mesma pessoa.
Abaixo trago a sequência de cartas e a interpretação de Osho para cada.

"Leitura Espelho
Esta leitura é utilizada para a percepção de assuntos relacionados com outra pessoa (amor, amizade, parentes, etc.); Ela revela cada indivíduo no seu processo de vida atual, assim como a maneira como se compõem as energias ou o efeito-parceria (seu relacionamento com a pessoa em questão).

Você no aqui/agora
 
1 -  Sobre o Corpo: Carta Preguiça
Quando você está preguiçoso, o sabor é negativo: você simplesmente sente que não tem energia, sente-se entediado; sente-se sonolento; você simplesmente se sente morto. Quando você está num estado de não-fazer, então, você está cheio de energia - é um sabor muito positivo. Você tem energia total, transbordante. Você se sente radiante, borbulhante, vibrante. Não há sonolência, você está perfeitamente consciente. Você não está morto - você está tremendamente vivo... 
Há certa possibilidade de que a mente o iluda: ela pode racionalizar a preguiça como sendo não-fazer. Ela é capaz de dizer "Eu me tornei um mestre Zen", ou "Eu acredito no Tao", mas você não estará enganando ninguém. Apenas a você mesmo. Esteja alerta, portanto.

Comentário:
O cavalheiro desta figura claramente acha que já conquistou tudo. Senta-se na sua grande poltrona estofada e macia, à sombra do seu guarda-sol, com seus óculos escuros e seus chinelos cor-de-rosa, segurando um coquetel refrescante. Não sente disposição para se levantar e fazer algo, porque acha que já fez tudo. Ainda não se voltou para ver o espelho que está se partindo à sua direita, um sinal seguro de que essa posição que ele acha que finalmente galgou, está prestes a desmoronar e dissolver-se diante dos seus próprios olhos. 
A mensagem desta carta é de que esse recanto à beira da piscina não é o seu destino final. A jornada não terminou ainda, como demonstra o pássaro branco voando na vastidão do céu. Sua atitude autocomplacente certamente decorre de um sentimento verdadeiro de realização, mas agora já é hora de seguir em frente. Não importa quão confortáveis sejam os chinelos, quão saboroso o seu coquetel: há ainda céus acima de céus esperando por serem explorados.

2 -  Sobre o Coração: Carta Possibilidades
A mente pode aceitar fronteiras em qualquer lugar. A verdade, porém, é que, por sua própria natureza, a existência não pode aceitar fronteiras de espécie alguma, pois... - o que haverá do outro lado do muro? Céu e novamente um outro céu. Por isso é que estou dizendo que céus sobre céus estão disponíveis para o seu voo. 
Não se contente facilmente. Os que se contentam com pouco permanecem pequenos: pequenas são as suas alegrias, pequenos são os seus êxtases, pequenos são os seus silêncios, pequeno é o seu ser. 
Mas não há necessidade disso! 
Essa pequenez é uma imposição que você mesmo faz à sua liberdade, às suas possibilidades ilimitadas, ao seu potencial sem limites. 

Comentário:
A águia tem uma visão panorâmica de todas as possibilidades existentes na paisagem lá embaixo, enquanto voa livremente pelo céu, com naturalidade e sem qualquer esforço. Ela está realmente no seu domínio, majestosa e senhora de si. 
Esta carta indica que você se encontra num ponto em que um mundo de possibilidades lhe é oferecido. Por ter desenvolvido mais amor para consigo mesmo, por estar mais pleno de si mesmo, você consegue trabalhar facilmente com os outros. Por estar relaxado e à vontade, você é capaz de reconhecer possibilidades à medida que elas se apresentam, algumas vezes até antes que outros as consigam perceber. Por estar em sintonia com a sua própria natureza, você compreende que a existência lhe está proporcionando exatamente aquilo de que você precisa. Aproveite o voo! E celebre todas as variadas maravilhas da paisagem aberta diante de seus olhos.

3 -  Sobre a Mente: Carta Celebração 
A vida é um momento para ser celebrado, desfrutado. Torne-a divertida, uma celebração, e então você entrará no Templo. Esse templo não é para os tristes e desanimados, nunca foi para eles. Olhe para a vida: você vê tristeza em alguma parte? Você já viu uma árvore deprimida? Você já encontrou um pássaro movido por ansiedade? Já viu um animal neurótico? Não, a vida não é assim, absolutamente. Só o homem é que seguiu um caminho errado, se desviou em algum lugar, porque ele se considera muito sábio, muito esperto.
Sua esperteza é o seu mal. Não seja sábio demais. Lembre-se sempre de parar; não vá a extremos. Um pouco de tolice e um pouco de sabedoria fazem bem, e a combinação certa faz de você um buda...

Comentário:
Estas três mulheres dançando ao vento e na chuva, nos fazem lembrar de que uma celebração nunca precisa ficar na dependência de circunstâncias exteriores. Não é preciso esperar por um feriado especial ou por uma ocasião formal, nem por um dia de sol sem nuvens. A verdadeira celebração nasce de uma alegria que primeiro é experienciada profundamente dentro do seu ser, e que se derrama num transbordamento de canto e dança, de riso, e até mesmo de lágrimas de gratidão.
Quando você tira esta carta, é um sinal de que está se tornando cada vez mais disponível e aberto às muitas oportunidades que existem para celebrar na vida e contagiar outras pessoas. Não se preocupe em programar uma festa na sua agenda. Deixe o cabelo ao natural, tire os sapatos, e comece a pular nas poças d`água agora mesmo. A festa está acontecendo à sua volta, a cada momento!


Pessoa no aqui/agora
 
4 - Sobre o Corpo: Carta Indo com a Correnteza
Quando eu digo "transforme-se em água", quero dizer "transforme-se num fluxo" - não fique estagnado. Mova-se, e mova-se como a água. Lao Tsé diz: A maneira de ser do Tao é igual à de um curso d`água. Movimenta-se como a água. E como é o movimento da água? Ou um rio? Esse movimento tem algumas coisas belas em si. Uma delas é que a água se desloca sempre em direção à profundeza, sempre procura o terreno mais baixo. A água não tem ambição, nunca briga por ser a primeira: ela quer ser a última. Lembre-se de que Jesus disse: "Os últimos serão os primeiros no meu reino de Deus". Ele estava falando sobre essa maneira de ser do rio, do Tao - sem mencioná-la, mas falando a respeito dela. Quanto a você, seja o último, seja sem ambição. Ambição significa subir morro acima. A água vai para baixo, procura o terreno mais baixo, quer ser uma não-entidade. Não quer proclamar-se especial, excepcional, extraordinária. A água não tem qualquer noção de ego.

Comentário:
A figura desta carta está completamente relaxada e à vontade na água, deixando a correnteza levá-la aonde queira. É alguém que dominou a arte de ser passivo e receptivo, sem sentir-se enfadado ou sonolento. Apenas está disponível ao rio da vida, sem ter nunca um pensamento do tipo "Eu não gosto disto aqui", ou "Eu prefiro ir em outra direção". 
A cada momento na vida temos a opção de entrar na correnteza e boiar, ou de tentar nadar rio acima. Quando esta carta aparece em uma leitura, é uma indicação de que agora você está preparado para flutuar, confiante em que a vida o apoiará no seu relaxamento, e irá levá-lo exatamente aonde ela quer que você vá. Deixe que esse sentimento de confiança e relaxamento cresça cada vez mais; tudo está acontecendo exatamente como deveria.




5 - Sobre o Coração: Carta Abundância
No Oriente, as pessoas condenaram o corpo, condenaram a matéria, chamaram-na de "ilusória", de maya: coisa que de fato não existe, apenas parece existir; coisa feita da mesma substância dos sonhos. As pessoas renegaram o mundo, e esta é a razão pela qual o Oriente permaneceu pobre, doente, faminto. 
Metade da humanidade tem vivido aceitando o mundo interior, mas negando o mundo exterior. A outra metade tem aceitado o mundo material, e negado o mundo interior. Ambas são metades, e homem nenhum que seja uma metade pode estar satisfeito. 
É necessário ser inteiro: rico no corpo, rico em ciência; rico em meditação, rico em consciência. No meu modo de ver, apenas a pessoa inteira é uma pessoa sagrada. 
Eu quero que se misturem Zorba e Buda. Zorba sozinho é vazio. Sua dança não tem significação eterna, é prazer momentâneo. Logo ele se cansará dela. A menos que você disponha de fontes inesgotáveis que lhe venham do próprio cosmos... a menos que você se torne existencial, não poderá tornar-se inteiro. 
Esta é a minha contribuição para a humanidade: a pessoa inteira.

Comentário:
Este tipo dionisíaco é o próprio retrato de um homem inteiro, um "Zorba e Buda" que pode beber vinho, dançar na praia, cantar na chuva, e ao mesmo tempo desfrutar as profundezas da compreensão e do conhecimento próprios do sábio. Em uma das mãos ele segura uma flor de lótus, demonstrando que respeita e contém em si mesmo a graça do feminino. O peito exposto (um coração aberto) e a barriga relaxada mostram que ele está à vontade com a sua masculinidade também, inteiramente pleno de si. Os quatro elementos; terra, fogo, água e céu, confluem no Rei do Arco-Íris, que está sentado sobre o livro da sabedoria da vida. 
Se você é mulher, o Rei do Arco-Íris traz para a sua vida o apoio de suas energias masculinas, uma união com a alma gêmea interior. Para um homem, esta carta representa uma oportunidade para romper com os estereótipos masculinos convencionais, permitindo que transpareça a plenitude do ser humano. 

 
6 -  Sobre a Mente: Carta Política
Qualquer um que seja capaz de fingir com convicção, que consiga ser hipócrita, se tornará seu líder político, se tornará seu sacerdote religiosamente. Tudo que ele precisa é de hipocrisia, tudo o que ele precisa é de dissimulação, tudo que ele precisa é de uma "fachada" para se esconder por trás. Os seus políticos vivem vidas duplas, os seus sacerdotes levam vida dupla - uma pela porta da frente, a outra pela porta dos fundos. E aquela vivida pela porta dos fundos é a vida real deles. Aqueles sorrisos pela porta da frente são pura falsidade, aquelas caras tão inocentes são puramente cultivadas. Se você quiser ver a realidade do político, precisará olhá-lo pela porta dos fundos. Deste ângulo ele aparece na sua nudez, do jeito como ele é; e para o sacerdote a coisa é assim também. Esses dois tipos de pessoas dissimuladas têm dominado a humanidade. Muito cedo eles descobriram que, se você quer dominar a humanidade, deve torná-la fraca, fazê-la sentir-se culpada, não-merecedora. Destrua a sua dignidade, tire-lhe toda a glória, humilhe-a. E encontraram maneiras tão sutis de humilhar, que eles nem aparecem "na foto"; você mesmo fica encarregado de se humilhar, de se destruir. Eles lhe ensinaram uma forma de suicídio lento. 

Comentário:
Você reconhece este homem? Com exceção dos mais inocentes e sinceros de nós, todos temos um político de tocaia em algum lugar da nossa mente. De fato, a mente é política. É da sua própria natureza planejar, montar esquemas, e tentar manipular situações e pessoas de maneira a conseguir o que quer. Nesta carta, a mente é representada pela serpente recoberta de nuvens, que "fala com uma língua bífida". O que é importante perceber, porém, a propósito desta figura, é que ambas as caras são falsas. A face cândida, inocente, do tipo "confie em mim", é uma máscara, e a face diabólica, venenosa, do tipo "vou tirar vantagem de você", também não passa de uma máscara. Políticos não têm faces verdadeiras. Seu jogo é na totalidade uma mentira. 
Dê uma boa examinada em si mesmo para verificar se você tem estado fazendo esse jogo. O que você vai encontrar poderá ser doloroso de ver, mas não tão doloroso quanto continuar agindo igual. No final, esse jogo não serve ao interesse de ninguém, e muito menos ao seu. O que quer que você consiga por esse caminho, irá transformar-se em pó nas suas mãos.

Manifestação exterior da parceria 

7 - Sobre a dissolução e fusão (intimidade): Carta Projeções
Numa sala de cinema, você olha para a tela, nunca para o fundo da sala - o projetor está no fundo. O filme de fato não está na tela: é apenas uma projeção de sombra e luz. O filme existe apenas lá atrás, mas você nunca olha naquela direção. E o projetor está lá. Sua mente está por trás da coisa toda: a mente é o projetor. Mas você fica sempre olhando para o outro, porque o outro é a tela. 
Quando você está apaixonado, a pessoa parece linda, incomparável. Quando você sente ódio, a mesma pessoa parece a mais feia de todas, e você nunca se questiona como pode a mesma pessoa ser a mais feia e a mais bonita... 
A única maneira, portanto, de se chegar à verdade, é aprender como enxergar diretamente, como deixar de lado a intermediação da mente. Essa interferência é o problema, porque a mente só é capaz de criar sonhos... 
Com a ajuda do seu entusiasmo, o sonho começa a parecer realidade. Quando o entusiasmo é demasiado, então você está intoxicado, não está na posse dos seus sentidos. Nessa condição, o que quer que você enxergue será apenas uma projeção sua. E existem tantos mundos quanto mentes, porque cada mente vive no seu próprio mundo.

Comentário:
O Homem e a mulher desta carta estão se olhando; contudo, não são capazes de se enxergar com nitidez. Cada qual está projetando uma imagem que construiu em sua mente, de maneira a encobrir o rosto verdadeiro da pessoa para quem está olhando.
Todos nós podemos cair na armadilha de projetar "filmes" de nossa própria autoria, sobre as situações e as pessoas à nossa volta. Isso acontece quando não estamos plenamente conscientes de nossas expectativas, desejos e julgamentos; em vez de assumir a responsabilidade por tais expectativas, desejos e julgamentos, e de reconhecê-los como nossos, tentamos atribuí-los aos outros. Uma projeção pode ser diabólica ou divina, perturbadora ou confortadora, mas continua sendo uma projeção -- uma nuvem que nos impede de ver a realidade como ela é. O único modo de escapar disso é entender como funciona o jogo. Quando você der com um julgamento se formando a respeito de outra pessoa, vire-o do avesso: aquilo que você está vendo no outro, na verdade, não pertence a você? A sua visão está límpida, ou obstruída pelo que você quer ver?

8 - Sobre a Alquimia do companheirismo (transformação): Carta Culpa
Este momento!... O aqui-agora... fica esquecido quando você começa a pensar em termos de conquistar alguma coisa. Quando a mente realizadora se manifesta, você perde contato com o paraíso em que está. Esta é uma das abordagens mais liberadoras: ela o liberta imediatamente! Esqueça tudo a respeito do pecado e da santidade - ambas são ideias estúpidas. Juntas, destruíram todas as alegrias da humanidade. O pecador se sente culpado, e com isso sua alegria fica perdida. Como é possível apreciar a vida se você está sempre se sentindo culpado? Se o tempo todo você fica indo à igreja para confessar que fez isto e aquilo errado? Errado, errado, errado... a sua vida inteira parece ser feita de pecados. Como viver com alegria? Fica impossível sentir prazer na vida. Você se torna pesado, carregado. A culpa instala-se no seu peito como uma pedra - ela o esmaga; não permite que você dance. Como seria possível dançar? Como a culpa pode dançar? Como a culpa pode cantar? Como a culpa pode amar? Como a culpa pode viver? Assim, quem pensa que está fazendo coisas erradas sente-se culpado, pesado, um morto antes da hora - já está dentro do túmulo.

Comentário:
A culpa é uma das emoções mais destrutivas em que podemos nos deixar aprisionar. Se tivermos agido mal com alguém, ou procedido contrariamente à nossa própria verdade, naturalmente nos sentiremos mal. Mas permitir que fiquemos sobrecarregados de culpa é fazer um convite à enxaqueca. Acabaremos envolvidos por nuvens perturbadoras de dúvidas a nosso próprio respeito, e por sentimentos de desvalor, a ponto de não conseguirmos enxergar as belezas e alegrias que a vida está tentando nos oferecer. 

Todo mundo anseia por ser uma pessoa melhor - mais amorosa, mais consciente, mais sincera consigo mesmo. Quando, porém, nos punimos por nossas falhas, sentindo-nos culpados, podemos cair prisioneiros de um ciclo de desespero e desesperança que nos tira toda a clareza de visão a nosso próprio respeito e a respeito das situações que encontramos pela frente. Você é absolutamente bom do jeito que é, e é absolutamente natural errar o caminho de vez em quando. Apenas aprenda com a experiência; siga em frente e aproveite a lição para não cometer o mesmo erro outra vez.

9 - Sobre as Bênçãos (benefícios e dádivas): Carta Sofrimento
Esta dor que o aflige não deve deixá-lo triste, lembre-se disso. É este o ponto que as pessoas continuam a não compreender... Esta dor é apenas para deixá-lo mais alerta - porque as pessoas só ficam atentas quando a seta vai fundo no seu coração e as fere. De outra maneira, não despertam. Quando a vida é fácil, confortável, conveniente, quem se preocupa? Quem se dá ao trabalho de ficar alerta? Quando morre um amigo, apresenta-se uma possibilidade. Quando a sua mulher o abandona - naquelas noites escuras, você sente solidão. Você amou tanto aquela mulher e arriscou tudo por ela e, então, de repente, um dia, ela vai-se embora. Chorando na sua solidão... essas são as ocasiões em que, sabendo aproveitá-las, você poderá tornar-se consciente. A seta está ferindo: então é possível usá-la. 
A dor não existe para fazê-lo infeliz: ela está aí para torná-lo mais consciente! E quando você se torna consciente, a infelicidade desaparece.
 
Comentário:
Esta figura é de Ananda, primo e discípulo do Buda Gautama. Ele esteve ao lado do Buda constantemente, cuidando de cada necessidade dele por quarenta e dois anos. Quando Buda morreu, conta-se que Ananda estava ainda a seu lado, chorando. Os outros discípulos repreenderam-no por ele não estar entendendo: Buda havia morrido completamente realizado; Ananda deveria estar celebrando! Mas Ananda respondeu: "Vocês é que não estão compreendendo. Não estou chorando por ele, mas por mim mesmo, porque ao longo desses anos todos eu estive constantemente ao seu lado, e mesmo assim não consegui atingir". Ananda ficou acordado a noite inteira, meditando profundamente e sentindo sua dor, sua tristeza. Diz a história que, quando o dia amanheceu, ele estava iluminado. 
Tempos de grande sofrimento trazem em si, potencialmente, tempos de grande transformação. Para que a transformação aconteça, porém, precisamos ir fundo às raízes da nossa dor, vivenciando a dor exatamente como ela é, sem culpa e sem autopiedade.

Propósito espiritual interior
 
10 - Sobre a dissolução e fusão (intimidade): Carta Além da Ilusão
Esta é a única distinção entre o sonho e o real: a realidade permite-lhe duvidar e o sonho não lhe permite duvidar... 
Para mim, a capacidade de duvidar é uma das maiores bênçãos da humanidade. As religiões comportam-se como inimigas, porque podam as próprias raízes da dúvida; e existe uma razão para que elas ajam assim: elas querem que as pessoas acreditem em determinadas ilusões que elas vivem pregando... 
Por que motivo pessoas como o Buda Gautama têm insistido tanto em que a existência inteira - com exceção do seu eu que a tudo testemunha, com exceção da sua consciência - é efêmera, feita do mesmo material de que são feitos os sonhos? Elas não estão afirmando que aquelas árvores não se encontram ali. Não estão dizendo que aqueles pilares não estão lá. Não entenda mal por causa da palavra 'ilusão' (maya)... A palavra foi traduzida como "ilusão", mas 'ilusão' não é a palavra certa. Ilusão é algo que não existe. A realidade existe. "Maya" fica exatamente entre as duas - algo que quase-existe. No que diz respeito a atividades do dia-a-dia, maya pode ser tomado como realidade. Apenas no seu sentido máximo - a partir do ápice da sua iluminação -, as coisas se revelam irreais, ilusórias.

Comentário:
A borboleta, nesta carta, representa o exterior, aquilo que está constantemente se transformando, aquilo que não é real, mas uma ilusão. Por detrás da borboleta está a face da consciência, olhando para dentro, para aquilo que é eterno. O espaço entre os dois olhos abriu-se, revelando o lótus do desenvolvimento espiritual e o sol da consciência que se levanta. Através da ascensão do sol interior, nasce a meditação. 
A carta nos lembra de não olhar para fora à procura do que é real, mas olhar antes para dentro de nós mesmos. Quando nos concentramos no mundo exterior, com frequência nos assaltam os julgamentos - isto é bom, isto é ruim, isto eu quero, aquilo eu não quero. Tais julgamentos nos mantêm prisioneiros das nossas ilusões, da nossa sonolência, dos nossos velhos hábitos e padrões. Abandone sua mente opiniosa e mova-se para dentro. Lá você poderá relaxar no seio da sua própria verdade mais profunda, onde a diferença entre sonhos e realidade já é.

11 - Sobre a Alquimia do companheirismo (transformação): Carta Repressão
Em sânscrito, a palavra é "alaya vigyan": a casa em cujo porão você vai juntando coisas que gostaria de fazer, mas que não pode por causa das condições sociais, da cultura, da civilização. Essas coisas, porém, vão se acumulando ali, e muito indiretamente passam a afetar as suas ações, a sua vida. Elas não podem encará-lo diretamente - você as obrigou a ficar na escuridão; mas, do escuro, elas continuam influenciando o seu comportamento. Elas são perigosas: é arriscado manter todas essas inibições dentro de você. 
É possível que essas sejam as coisas que atingem um clímax, quando uma pessoa enlouquece. A loucura não é outra coisa senão todas essas repressões chegando a um ponto em que você já não consegue controlá-las. A loucura, porém, é aceitável, ao passo que a meditação não - e a meditação é o único caminho para tornar uma pessoa absolutamente sã. 

Comentário:
A figura desta carta apresenta-se literalmente "emaranhada em nós". Sua luz ainda brilha no íntimo, mas esse personagem reprimiu sua própria vitalidade na tentativa de corresponder a muitas exigências e expectativas. Abriu mão de todo o seu próprio poder e visão, em troca de ser aceito por essas mesmas forças que o aprisionaram. O perigo de reprimir dessa maneira a própria energia natural é visível nas rachaduras de uma erupção vulcânica que está para acontecer em toda a volta da figura. 

A verdadeira mensagem desta carta é que é necessário encontrar uma saída de cura para essa explosão iminente. É essencial encontrar uma maneira de dar vazão a qualquer tensão e estresse que possam estar se acumulando, neste momento, dentro de você. Soque um travesseiro, dê pulos, procure uma área deserta e berre contra o céu vazio: qualquer coisa que possa ativar sua energia e consiga fazê-la circular livremente. Não espere que aconteça uma catástrofe.

12 - Sobre as Bênçãos (benefícios e dádivas): Carta A Mente
Esta é a situação da sua cabeça: vejo ali guidões de bicicleta, pedais e coisas estranhas que você foi juntando de toda parte. Uma cabeça tão pequena… e sem espaço para se viver nela! E esse material inútil fica revolvendo-se em sua cabeça; sua cabeça fica girando e tramando - e isso mantém você ocupado. Imagine só que tipos de pensamentos vão passando pela sua mente… 
Qualquer dia, simplesmente sente-se, feche os olhos, e coloque no papel, durante meia hora, o que quer que passe pela sua mente. Você compreenderá o que estou querendo dizer, e ficará surpreso com o que transita no interior da sua mente. Isso tudo vai ficando nos bastidores, fica ali o tempo todo, e acaba envolvendo-o, como uma nuvem. Devido a essa nuvem, você não consegue distinguir a realidade, não consegue chegar à percepção espiritual. É preciso desfazer-se dela. E apenas com a sua decisão de descartá-la é que ela irá desaparecer. Você está apegado a ela,  a nuvem mesma não tem o menor interesse em você, lembre-se disso.” 

Comentário:
Isto é o que acontece quando nos esquecemos de que a mente foi feita para servir, e começamos a permitir que ela dirija a nossa vida. A cabeça está cheia de mecanismos, a boca não pára de censurar, e toda a atmosfera em volta fica poluída por essa fábrica de argumentos e de opiniões. “Mas, espere aí!”, você talvez diga. “A mente é o que nos torna humanos, é a fonte de todo progresso, de todas as grandes verdades!” Se você acredita nisso, faça uma experiência: entre no seu quarto, feche a porta, ligue um gravador, e passe a falar sem restrições o que quer que lhe venha “à mente”. Se de fato você deixar que saia tudo, sem nenhuma censura ou retificação, ficará espantado de ver a quantidade de tolices que você dirá.
O Valete das Nuvens está lhe dizendo que alguém, em algum lugar, está preso em uma “viagem da cabeça”. Dê uma olhada, e assegure-se de que não é você."








Tarot Zen, de Osho
17/12/2018 15h