30 de mai. de 2012

O garoto de Liverpool


Ele não é de Liverpool mas poderia ter sido. Na verdade, poderia ter se adaptado em qualquer cidade e em qualquer ponto da história mundial, se fosse necessário. Bem assim, sem fronteiras no espaço-tempo. Resolveu então nascer gaúcho e se bandear para os catarinas, por um tempo.
O garoto de Liverpool poderia ter nascido mais ao sul. Poderia ter escolhido estar mais ao sul, e mesmo assim teria as mesmas influências.
Poderia...

Nele sempre haverá um ‘e se?’ tatuado na testa. Sempre haverá a mistura de influências e a permanência insistente da velha amiga coincidência que já foi, sorrateiramente, formando um destino injusto.
Chego à conclusão de que além de histórias paralelas, foi sendo formada uma série de universos paralelos. As probabilidades de que as coisas dessem certo, em alguma altura da vida, indicavam apenas que a cada encontro desses dois mundos paralelos, as leis que regiam os astros se despedaçavam e lobos devoravam voraz gentis cordeiros. Ou seja, as consequências pioraram exponencialmente, com um aumento durante a estação do inverno.
Tenho certeza de que o ingênuo garoto de Liverpool não se deu por conta que aquelas palavras musicadas recitadas ao pé do ouvido, tornariam a sua história igual à de um filme, repercutido em todo universo.

Houve um tempo onde, ao observar a lua, ele sabia que lá existiam coelhos lunares – que alimentavam-se de pedras lunares -, ou que pelo menos na sua parte de Liverpool, todos eram reais.
Nesse mesmo tempo ele já leu ou viu que sempre que se observa a lua, em algum lugar do mundo existe alguém a admirando do outro lado. Sorte daqueles que acreditam no acaso e tem como ‘receptor-da-lua’ o guri egoísta que roubou Liverpool inteira, só para ele.
Ressalto que este homem, hoje, possui amor suficiente e é capaz de representar toda cidade. Comprometeu-se a retirar todo o peso do mundo dos ombros das pessoas-de-bem e ensinar amor para todos, afinal ele sempre tem as melhores intenções - o que justifica o egoísmo de ter roubado a minha Liverpool para si. Lembro-lhe, tolamente, que é necessário ensinar o amor em toda sua grandeza e forma. Inclusive, eu acredito que tenha sido ele que criou a lei do amor necessário.

Depois de um tempo perdi seu nome e feições. Tentei durante a vida inteira lembrar o meu personagem invisível, mas hoje em dia tudo que eu lembro é a forma com que aquela música de entrega juvenil e eterna foi sussurrada. Claramente, foi um divisor de vidas.

Agora eu envelheci e muitos anos passaram, mas sei que o garoto de Liverpool ainda está jovem e cheio de letras, sem autocríticas ou orgulho, solto por um mundo que jamais imaginamos.
Para ele, deixo de presente a lua dos coelhos lunares que eu particularmente nunca pude ver. Repito-me e relembro que estas palavras foram frutos de um esforço sobre humano para agradar o meu desconhecido-íntimo preferido: “O momento comandará, não no início obviamente, afinal o tempo será o capitão destas próximas palavras. Essa conexão com o passado transformou-se em uma epilepsia tal, capaz de fazer os óculos do John caírem ao o olhar do Paul.

Com certeza ao finalmente voltar para casa, mandarei todo meu amor numa caixa com formato de coração.

28 de mai. de 2012

O Guardião de Memórias – Kim Edwards



“Sua irmã. Sua irmã gêmea. E se ela não tivesse nascido com a síndrome de Down? Ou, então, se tivesse nascido do jeito que era, simplesmente ela mesma, e seu pai não houvesse erguido os olhos para Caroline Gill, enquanto a neve caía no mundo lá fora e o colega dele atolava numa vala? Paul imaginou os pais, muito jovens e muito felizes, aninhando os dois no carro e dirigindo devagar pelas ruas molhadas de Lexington, no degelo de março que se seguira a seu nascimento. A ensolarada sala de recreação contígua a seu quarto teria sido o quarto de Phoebe. Ela o teria perseguido escada abaixo, passado pela cozinha e entrado no jardim silvestre, com o rosto sempre junto dele, o riso de um ecoando o do outro. Quem teria sido Paul, neste caso?
p.317

Em seguida que comecei a ler este livro me entristeci pela história e quase me cansei das descrições feitas pela escritora.
Persisti na leitura porque acredito que todo livro deve ser terminado para, só então tirarmos nossas conclusões com conhecimento de causa. Trato da mesma forma álbuns e discografias.

Para mim o livro valeu por este parágrafo que cito acima.
Hoje em dia tento, às vezes em vão, diminuir o abismo existente entre dois irmãos. Acredito que o imediatismo adolescente que eu ainda possuo (e acredito que possuirei sempre) me impede de sofrer menos.
Quero um irmão com todas as letras e estripulias e não um meio-irmão. Em meu pensamento o “meio” só serve para que as pessoas saibam que talvez não moremos juntos e que não temos exatamente os mesmos pais. Irmãos são sempre irmãos, a não ser que não queiram ser.


Agora que já nos tiraram a infância e a intimidade que teríamos de nada adianta reclamar e julgar as decisões alheias. Foram tempos difíceis, tenho certeza disso e quem sabe as decisões tenham sido as melhores possíveis.
O fato é que nos foi roubado sete anos de memórias, os sete anos mais inocentes que todo mundo tem na vida.
Já falei, quero um irmão por inteiro, alguém que me acoberte quando eu precisar, que brigue comigo e me bata. Alguém que seja meu porto seguro, confidente e risonho-tristonho. Fico apenas pensando no que poderíamos ser hoje em dia, nas histórias que teríamos. Ter o que os meus amigos têm.
Tudo em vão.

E então fico aqui, tentando e tentando. Prontificando-me a ser uma irmã e recebendo um provável meio-irmão, respeitando a maneira diferente com que fomos criados e procurando em cada meio gesto uma esperança e um sinal de que estou no caminho certo.
Até que o imediatismo adolescente se cale e dê lugar à sábia paciência do companheirismo para toda vida.

27 de mai. de 2012

paralizações e greves

Entre greves e paralizações tenho tido tempo para ficar muito indignada. A universidade onde eu estudo aderiu à greve dos professores, entretanto até que essa decisão fosse tomada uma semana de fatos ocorreu.

Houve a chamada greve dos estudantes, deflagrada por uma assembléia convocada pelo DCE (Diretório Central dos Estudantes) na segunda-feira passada. Perguntei a alguns colegas se estes iriam comparecer e ouvi respostas indignantes e negativas.

A decisão da paralização dos estudantes consistiu no argumento de que greve parcial é pior que greve integral. Vi muitos amigos e conhecidos comentarem que são contra a greve e que acharam uma atitude precipitada e manipuladora, onde só resultaria em atrasos no ano letivo (aulas no verão) e indiferença por parte dos políticos (greve estudantil é uma palhaçada). Aí comecei a me perguntar: Onde estava esse monte de gente que diz ser contra a greve, no horário da assembléia geral?
Com certeza se todos que estão se manifestando estivessem lá dando sua opinião talvez o resultado fosse diferente e a greve tivesse perdido força nessa universidade.
Acontece que agora temos que andar junto com a correnteza pois não estávamos lá para decidir sobre o nosso próprio futuro, afinal é muito fácil ir contra a decisão já tomada, difícil é participar das reuniões e ajudar a construir uma ideia.

Sou contra a greve, entretanto agora, só quero que esta acabe o mais rápido possível e faço isso usando a ideia de coletivo e tentando reduzir os danos.
Espero que as pessoas que hoje se dizem contra à greve aprendam a participar das suas decisões e procurem um mínimo de organização pois o lado negro da força já é organizado e tem propostas (lavagens cerebrais) boas de mais para serem verdade.

6 de mai. de 2012

na próxima vez...

nem sempre fazer a coisa certa deixa uma sensação certa.
eu que já sorria e cantava por nada, agora estou aqui. incrivelmente em uma mísera semana eu já tinha até dançado sozinha no quarto!
agora o gosto é amargo, meio que misturado com o da solidão.
dói mas poderia ter doído muito mais e eu sei que pelo menos as coisas já estão provadas. provei para mim mesma que eu posso sim voltar a ser feliz.
a minha cabeça está aberta e agora é só ter coragem para seguir em frente, dançando enquanto arrumo o quarto.

obrigada.